Um dos grandes desafios para o tratamento dos distúrbios cerebrais é entender quando eles começam. Pensando nisso, pesquisadores passaram a buscar pequenas alterações, antes mesmo de qualquer sintoma, que indicassem o início da perda de memória e do Alzheimer. Para isso, observavam — com sucesso — alterações nos padrões de escrita com auxílio de Inteligência Artificial (IA), desenvolvida por cientistas da IBM. A taxa de acerto do estudo foi de 75% na previsão de casos da doença.
Embora o grupo tenha focado no Alzheimer, essa fórmula é apenas o começo para novas descobertas na área. Isso porque indivíduos que enfrentam uma ampla variedade de doenças neurológicas têm padrões de linguagem distintos, segundo os pesquisadores. Em outras palavras, se for possível rastrear essas alterações através da linguagem, inúmeras doenças poderão ser diagnosticadas antes mesmo de se tornarem irreversíveis.
Pesquisa com Alzheimer e IA
Para o estudo sobre o Alzheimer, os pesquisadores analisaram um grupo de 80 pessoas, composto tanto por homens quanto por mulheres, todos com 80 anos. No início da pesquisa, metade deles (40 voluntários) desenvolveu o Alzheimer. No entanto, sete anos antes, todos tinham suas funções cerebrais funcionando conforme o esperado.
Esses indivíduos participavam do Framingham Heart Study, uma pesquisa do governo norte-americano de longa duração e que exigia dos envolvidos testes físicos e cognitivos regulares. Entre as atividades realizadas, os voluntários escreveram uma redação — antes de qualquer alteração cognitiva —, onde descreveram um menino em uma banqueta, enquanto pegava um pote de biscoitos em uma prateleira alta do armário. Ainda nesta cena, uma mulher estava de costas para o garoto, apoiada na pia.
A partir dessa redação, os pesquisadores examinaram o uso de palavras com uma IA que procurava diferenças sutis na linguagem. Na pesquisa, a ferramenta identificou que um grupo era mais repetitivo no uso de palavras naquela época, mesmo que não houvesse nenhum sinal de problema cognitivo. Além disso, esses voluntários também cometeram alguns erros, como usar palavras escritas de forma errada. Outro ponto foi o uso de uma linguagem gramatical mais simples e direta. Anos depois, foi concluído que estas foram as pessoas que desenvolveram o Alzheimer.
De acordo com o estudo publicado na revista científica The Lancet EClinicalMedicine, a IA alcançou uma taxa de 75% de precisão para apontar quem teria Alzheimer, a partir das análises de escrita dos voluntários. “Não tínhamos pressupostos anteriores de que o uso de palavras mostraria alguma coisa”, afirmou Ajay Royyuru, pesquisador da IBM, para o jornal The New York Times.
Mais pesquisas sobre o Alzheimer
O resultado intrigou os pesquisadores, já que prever a degeneração das funções cognitivas poderia reduzir e retardar o efeito do Alzheimer nos pacientes ou ainda impedir completamente a doença, o que hoje não é possível. “O que está acontecendo aqui é muito intrigante”, comentou Jason Karlawish, pesquisador da Universidade da Pensilvânia, nos EUA. “Dado um grande volume de fala falada ou escrita, você poderia detectar um sinal?”, questionou Karlawish sobre as possibilidades da descoberta.
“Esta é a primeira pesquisa que eu vi que pegou pessoas que são completamente normais e previu, com alguma precisão, que teriam problemas anos depois”, afirmou Michael Weiner, pesquisador da Universidade da Califórnia, sobre os resultados alcançados. Se esses primeiros resultados já são interessantes, os estudos devem se aprofundar cada vez mais para se aperfeiçoarem na questão neurológica que tanto desafia a ciência atual e ainda é incompreendida.
Fonte: Canaltech / Foto: Reprodução Internet