O impacto da pandemia na saúde mental das novas gerações poderá ser sentido por muitos anos, de acordo com relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), divulgado no início do mês. Isso porque crianças e jovens tiveram que ficar longe do ambiente escolar, dos amigos, das brincadeiras e até de pessoas da família por muito tempo — elementos considerados fundamentais durante a infância.
O principal relatório da organização, que este ano está focado em saúde mental de crianças, adolescentes e cuidadores no século 21, estima que, globalmente, mais de um em cada sete meninos e meninas, com idade entre 10 e 19 anos, viva com algum transtorno mental diagnosticado. O Brasil foi um dos 21 países que participou da pesquisa. Os dados mostram que 22% dos adolescentes e jovens de 15 a 24 anos brasileiros entrevistados disse que, muitas vezes, se sente deprimido ou tem pouco interesse em fazer coisas.
Em entrevista ao Grupo RSCOM, a psicóloga infanto-juvenil, com especialização em Psicoterapia Cognitivo Comportamental, especialista em infância e adolescência, e idealizadora do Atelier das Emoções de Bento Gonçalves, Monica Vagliati, explicou que a retomada gradual das atividades está sendo um alívio, porém as consequências da pandemia ainda persistirão por alguns anos no que se refere à saúde mental das crianças.
“Foi tudo muito assustador para as crianças, pois elas não entendiam o que estava acontecendo. Tudo o que causava segurança, como por exemplo a escola, não era mais seguro. Estávamos trancados em casa, os pais assustados, novos rituais. Muitas crianças viraram reféns de aparelhos tecnológicos e inclusive desenvolveram fobias de brincar. O que percebemos como profissionais da saúde mental foi que alguns sintomas afloraram neste período. Percebemos um aumento de ansiedade, de transtornos obsessivo compulsivos, fobia social, desatenção, entre outros. Esses sintomas vão ficar por um tempo. Eu acredito que vai demorar ainda alguns anos para as crianças se recuperarem de tudo o que passaram”, explicou.
Segundo Monica, o melhor caminho é auxiliar os filhos no que for possível, e principalmente proporcionar momentos de felicidade. “O ideal é buscar o apoio profissional para ajudar a criança a se recuperar. Mas o que os responsáveis podem fazer nesta gradual retomada das atividades, é proporcionar momentos de felicidade, de verbalização e validação de emoções, para que as crianças possam expressar o que estão sentindo. As relações precisam ser muito mais abertas e sem eletrônicos. Acho que o simples virou o mais importante, pois as crianças estão pedindo essa troca, esse tempo de brincar. Ter uma família para viver o dia das crianças é o melhor presente”, complementa.
Confira abaixo a entrevista com a psicóloga Monica Vagliati: