Imagem: Prato 'black rocks', do restaurante Central, no Peru/Crédito Ken Motohasi/Divulgação

Levou 20 anos, mas finalmente a América Latina alcançou o topo da gastronomia mundial. O peruano Central, localizado em Lima, Peru, foi eleito o melhor restaurante do mundo na edição de 2023 do 50 Best, um dos prêmios mais influentes do setor.

O Brasil esteve representado com apenas um restaurante entre os 50 melhores do mundo na premiação: A Casa do Porco, em São Paulo, ficou na 12ª posição (menos 5 posições que o ano passado).

É a primeira vez que a América Latina consegue o primeiro lugar no controverso ranking, dominado por duas décadas por restaurantes da Europa. Fora do velho continente, apenas os Estados Unidos haviam emplacado dois restaurantes no topo: The French Laundry (2003 e 2004) e Eleven Madison Park (2017).

Também foi um dos melhores anos da América Latina no ranking: o continente teve 12 representantes entre os 50 —dois a mais que no ano passado, apontando para uma boa onda latina na gastronomia mundial

Em novembro, o Rio de Janeiro vai receber a versão latino-americana da premiação —é a primeira vez que uma cerimônia dos 50 Best acontece no Brasil. “A América Latina merece o primeiro lugar pelo trabalho realizado de pesquisa, sustentabilidade e, acima de tudo, pelo um novo olhar que o continente tem proposto para a riqueza da cozinha ancestral que tem”, afirmou a chef Janaina Rueda, presente na celebração.

A vitória do Central representa não apenas uma mudança de paradigma geopolítico da gastronomia —ainda eurocêntrica— mas é o primeiro restaurante codirigido por uma chef mulher a chegar ao topo. Também trata-se do primeiro vencedor que tem uma cozinha com foco em ingredientes autóctones e com uma tradição culinária não europeia.

Das algas aos lingueirões (semelhante a um marisco) às dezenas de batatas nativas cultivadas nos Andes, a 4.200 metros, o menu do Central é uma viagem pelos biomas do país. A altitude foi a maneira que os chefs, Pía León e Virgilio Martinez, encontraram de mostrar toda a biodiversidade de um país que se tornou um destino gastronômico internacional e uma potência no mundo com sua cozinha.

Aberto em 2013, nos últimos anos o restaurante tem se dedicado a uma pesquisa de ingredientes e técnicas ancestrais, mantidos por comunidades nativas anteriores à colonização espanhola. Mater Iniciativa, um centro de investigação do território, é comandado por Malena Martinez, irmã de Virgílio, que fica nos Andes, onde os chefs também mantêm o restaurante Mil, em Moray.

O trabalho de pesquisa que fazem ali influenciou outros chefs na América Latina, fazendo com que mais cozinheiros buscassem valorizar o que têm em seu entorno e dar mais destaque aos ingredientes locais.

A lista, revelada este ano em Valência, na Espanha, mostra como essa mudança da geopolítica da gastronomia mundial tem alterado o ranking dos 50 melhores: no ano passado, 30 dos restaurantes eram europeus. Neste ano, o número foi de 27.

O fim das restrições de visitas aos países asiáticos também mudou gradativamente as posições da lista, dando a restaurantes de Bancoc e Hong Kong mais destaque. Dubai se firma como um destino gastronômico com dois restaurantes na lista —os únicos do Oriente Médio. A África continua sem representantes na lista, assim como a Oceania.

Em mais de duas décadas, entretanto, o 50 Best se firma como um elemento de grande influência no setor, capaz de reunir em uma mesma cidade chefs do México, de Hong Kong e da Eslovênia, além de jornalistas e influenciadores de todo o mundo.

Também foram anunciados prêmios especiais na cerimônia de 2023. Entre eles, o sul-africano Fyn, reconhecido como restaurante sustentável do ano, o espanhol Miguel Angel Millán, como melhor sommelier, e a chef equatoriana Pía Salazar, como melhor chef confeiteira. O prêmio Art of Hospitality (restaurante com melhor hospitalidade) foi dado ao Alchemist, na Dinamarca.

Entre as outras premiações individuais concedidas pelo 50 Best, o restaurante Tatiana (Nova York), do chef Kwame Onwuachi, foi eleito na categoria One to Watch, e o chef Andoni Luis Aduriz, do espanhol Mugaritz, foi reconhecido como ícone, ovacionado pelo público no palco .

Veja abaixo a lista dos 50 melhores restaurantes do mundo:

1 – Central (Lima)
2 – Disfrutar (Barcelona)
3 – Diverxo (Madri)
4 – Asador Etxebarri (San Sebastián, Espanha)
5 – Alchemist (Copenhague)
6 – Maido (Lima)
7 – Lido 84 (Gardone Riviera, Itália)
8 – Atomix (Nova York)
9 – Quintonil (Cidade do México)
10 – Table by Bruno Verjus (Paris)
11 – Trèsind Studio (Dubai)
12 – A Casa do Porco (São Paulo)
13 – Pujol (Cidade do México)
14 – Odette (Singapura)
15 – Le Du (Bancoc)
16 – Reale (Castel di Sangro, Itália)
17 – Gaggan Anand (Bancoc)
18 – Steirereck(Viena)
19 – Don Julio (Buenos Aires)
20 – Quique Dacosta (Valência)
21 – Den (Tóquio)
22 – Elkano (Getaria, Espanha)
23 – Kol (Londres)
24 – Septime (Paris)
25 – Belcanto (Lisboa)
26 – Schloss Schauenstein (Fürstenau, Suíça)
27 – Florilège (Tóquio)
28 – Kjolle (Lima)
29 – Boragó (Santiago)
30 – Frantzén (Estocolmo)
31 – Mugaritz (San Sebastián, Espanha)
32 – Hiša Franko (Kobarid, Eslovênia)
33 – El Chato (Bogotá)
34 – Uliassi (Senigallia, Itália)
35 – Ikoyi (Londres)
36 – Plénitude (Paris)
37 – Sézanne (Tóquio)
38 – The Clove Club (Londres)
39 – The Jane (Antuérpia, Bélgica)
40 – Restaurant Tim Raue (Berlim)
41 – Le Calandre (Rubano, Itália)
42 – Piazza Duomo (Alba, Itália)
43 – Leo (Bogotá)
44 – Le Bernardin (Nova York)
45 – Nobelhart & Schmutzig (Berlim)
46 – Orfali Bros Bistro (Dubai)
47 – Mayta (Lima)
48 – La Grenouillère (La Madelaine-sous-Montreuil, França)
49 – Rosetta (Cidade do México)
50 – The Chairman (Hong Kong)

Fonte: Folha de São Paulo