Mobilização caxiense busca tornar o Jogo do Quatrilho patrimônio cultural imaterial brasileiro, título concedido a bens culturais pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O objetivo é manter viva a cultura do jogo de cartas popular entre as comunidades do interior da Serra Gaúcha. Transmitido entre as gerações, o Jogo do Quatrilho está entre as mais significativas e ainda existentes expressões da cultura de imigração italiana no Sul do Brasil. O processo, que se inicia com a submissão de um pedido ao Iphan, autarquia ligada ao Ministério da Cultura, demanda projeto que contemple aspectos históricos e antropológicos relacionados à prática.
A responsável pela elaboração do dossiê, a partir de pesquisas histórica, de campo, iconográfica e etnográfica, produção visual e elaboração de justificativa, será a Universidade de Caxias do Sul, por meio de iniciativa da Confraria Qu4trilho Colonial, da localidade de São Luiz da 6ª Légua, interior de Caxias do Sul. Para iniciar os trabalhos, liderados pelo presidente da Confraria, Ivo Costa, e pelo padre Ernesto Camerini, jogador e entusiasta da ideia, a mobilização é pela captação de apoiadores para custear o desenvolvimento.
A Confraria Qu4trilho Colonial, inclusive, anuncia o início do projeto neste sábado, dia 2 de dezembro, no evento intitulado Quatrilho do Bem e Bingo do Bem, beneficente à entidade Murialdo Santa Fé, junto a uma campanha para que a comunidade possa contribuir com fotografias, vídeos e depoimentos para somar ao dossiê. Os envios poderão ser feitos para o e-mail imhc@ucs.br.
O diretor do Instituto Memória Histórica e Cultural (IMHC) da UCS, professor Anthony Beux Tessari, projeta que o dossiê preliminar com o pedido ao Iphan possa ser concluído até maio do ano que vem. A avaliação não tem prazo determinado, mas em caso de aprovação, o processo avançaria para a fase de instrução, com aplicação de metodologia de pesquisa e registro.
Patrimônio Cultural Imaterial
A Constituição Federal de 1988 inclui no patrimônio a ser preservado pelo Estado, em parceria com a sociedade, os bens culturais que sejam referência dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. O patrimônio imaterial é transmitido de geração a geração, constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana, registra o IMHC na proposta apresentada para a Confraria.
“O registro no Iphan dá ao bem cultural status de reconhecimento à expressão cultural, podendo refletir em benefícios para a identidade cultural e o turismo, no incentivo à cultura (também em editais para esse objetivo) e promove a coesão entre os grupos envolvidos no processo”, justifica Tessari, sobre a importância da validação.
Em 2020, o Quatrilho foi reconhecido como jogo oficial de Caxias do Sul via lei sancionada pela Prefeitura Municipal. O jogo, que tem troca de parceiros ao longo da partida, ainda foi metáfora para o título da obra O Quatrilho (1985), de José Clemente Pozenato, ambientada no contexto da colonização italiana no início do século 20, que foi adaptada ao cinema em filme de 1995 e levou o Brasil a concorrer ao Oscar em 1996.
A dedicação relacionada ao tema ainda converge com o início das festividades alusivas aos 150 anos da imigração italiana no RS, comemorados em 2025. Neste mesmo ano a publicação do livro O Quatrilho completará 40 anos e o lançamento do filme celebrará 30 anos.