Mesmo antes das tragédias climáticas sequenciais fazerem parte de nossa realidade, o excesso de chuva nos vinhedos nunca favoreceu essa cultura, principalmente perto da colheita. Esse é um problema que, por anos, impediu que vinhos (principalmente) tintos, fossem feitos com maior qualidade em algumas regiões do Brasil.
A explicação é simples: no ciclo anual da videira, o amadurecimento se dá no verão, quando os grãos se beneficiam dos dias mais quentes com mais horas de insolação. A colheita tradicional, assim, começa no verão e termina no outono. O problema, infelizmente, é cantado em verso por Elis Regina: “São as águas de março fechando o verão”, que acaba por prejudicar as variedades de uvas que amadurecem tardiamente, com a Cabernet Sauvignon, por exemplo.
No entanto, há pouco mais de uma década, pesquisadores do sul de Minas Gerais começaram a tentar ‘driblar’ a natureza, entendendo que se fizessem a parreira ‘escapar’ das chuvas do final do verão e aproveitar o calor dos dias de outono e as noites frias, poderiam ter melhores resultados e maior produção.
Para que isso aconteça é necessário podar as videiras mais uma vez, fazendo com que elas produzam no outono/inverno e não no ciclo tradicional de primavera/verão. Essa técnica ficou conhecida como ‘poda invertida’ ou ‘dupla poda’ e é utilizada principalmente nos estados onde o outono é seco, com dias ainda quentes e noites frias, mas sem geada. E como essas uvas são colheidas no inverno, esses vinhos são denominados “Colheita de Inverno”.
O sul de Minas Gerais foi o primeiro a adotar esse tipo de poda, seguido por São Paulo. Agora ela já é adotada em outros estados como Mato Grosso, Goiás e em algumas regiões do Paraná. A primeira uva a se adaptar bem ao sistema foi a tinta Syrah, seguida pela branca Sauvignon Blanc, o que permitiu resultados surpreendentes na vinificação. O interior de São Paulo tem aplicado essa técnica em diversas variedades como a Tannat, a Cabernet Franc e até mesmo uvas portuguesas, como a Touriga Nacional. Na lista abaixo você vai encontrar os melhores rótulos dos vinhos de Colheita de Inverno degustados por ADEGA.
Fonte: Revista Adega