Imagem: Divulgação/BBC

Em sua décima edição, o BBC 100 Women faz um balanço do progresso conquistado pelas mulheres em uma década. Embora tenha havido enormes avanços nos direitos das mulheres – do aumento do número de líderes femininas ao movimento MeToo – para mulheres em muitos cantos do mundo, ainda há um longo caminho a ser percorrido.

A lista deste ano reflete o papel de mulheres inseridas em graves conflitos em todo o mundo: das corajosas manifestantes que exigem mudanças no Irã ao rosto feminino do conflito e da resistência na Ucrânia e na Rússia. Pela primeira vez, esse ano a BBC também pediu, a mulheres selecionadas em edições anteriores, indicações de nomes que em sua opinião merecem ser incluídas na lista de 2022.

Entre elas está o fenômeno global da música Billie Eilish, a primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, as atrizes Priyanka Chopra Jonas (India) e Selma Blair (EUA), a “czarina do pop russo”, Alla Pugacheva, a recordista do salto triplo, a venezuelana Yulimar Rojas e a autora ganense Nana Darkoa Sekyiamah.

Três brasileiras também se juntaram ao seleto time das mais inspiradoras, ampliando a participação do Brasil. São elas a ativista e jornalista indígena Alice Pataxó, a senadora Simone Tebet, ex-candidata à presidência da República, e Erika Hilton, a primeira mulher trans negra eleita para o Congresso nacional.

O que é o projeto 100 Women?
Todos os anos, o BBC 100 Women elege 100 mulheres influentes e inspiradoras do mundo todo e, para contar suas histórias, são feitos documentários, reportagens e entrevistas. São histórias que colocam as mulheres em evidência.

Como as 100 mulheres foram escolhidas?
A lista foi elaborada com base em informações reunidas pela equipe do BBC 100 Women e nomes sugeridos pelas equipes de idiomas do Serviço Mundial da BBC. A equipe procurou candidatas que estamparam manchetes e estavam por trás de eventos importantes nos últimos 12 meses. Mulheres que possuem histórias inspiradoras para contar, que alcançaram algo significativo ou infuenciaram suas comunidades de uma maneira que não necessariamente se tornaria notícia. Esse conjunto de nomes foi então avaliado em relação ao tema deste ano – o progresso conquistado pelas mulheres em diversas áreas na última década.

Foram explorados temas que dividem opiniões, como os direitos reprodutivos, em que a conquista de uma mulher pode significar o fracasso de outra; e foram indicadas ainda mulheres que criaram sua própria mudança. Antes que os nomes finais fossem escolhidos, a lista ainda foi avaliada para garantir uma representação regional justa e a devida imparcialidade.

Algumas das mulheres da lista aparecem anonimamente ou sem um sobrenome para protegê-las, assim como às suas famílias, o que foi feito com o consentimento delas e seguindo a política editorial e as diretrizes de segurança da BBC.

Confira as 100 mulheres mais inspiradoras de 2022 de acordo com a BBC:

Lina Abu Akleh

Lina Abu Akleh, Territórios Palestinos

Ativista de direitos humanos

A ativista Lina Abu Akleh, palestino-armênia, é sobrinha da jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh, correspondente da Al Jazeera morta em maio enquanto cobria o conflito entre forças israelenses e palestinas na Cisjordânia. As forças armadas israelenses reconheceram que havia uma “grande probabilidade” de que um de seus soldados tenha matado a jornalista “acidentalmente”.

Lina hoje é o rosto da campanha que pede justiça e responsabilização pelo assassinato de sua tia. Mestre em estudos internacionais com foco em direitos humanos, ela foi indicada para a lista da nova geração de lideranças 2022 TIME100 por seu ativismo.

Precisamos retomar de onde minha tia Shireen Abu Akleh parou e continuar ampliando a perspectiva das mulheres para garantir que as histórias que estamos contando e as informações que estamos reunindo sejam equitativas, precisas e íntegras – sem mulheres, isso não é possível.

Dima Aktaa

Dima Aktaa, Síria

Corredora

Em 2012, a casa de Dima Aktaa foi bombardeada. Ela perdeu uma perna e a capacidade de fazer o seu esporte favorito: correr. Estima-se que 28% dos sírios tenham alguma deficiência, o que é aproximadamente o dobro da média global, segundo dados das Nações Unidas. Dez anos depois de sua tragédia pessoal, ela está no Reino Unido, treinando para competir nos Jogos Paralímpicos de 2024 em Paris.

Depois de levantar dinheiro para os refugiados durante a pandemia, a jovem foi homenageada pelo Lionhearts, time alternativo de futebol da Inglaterra, do qual passou a fazer parte. Sua história inspiradora ilustra o vídeo da música Beautiful, da estrela pop Anne-Marie, lançado no final de 202. Aktaa continua trabalhando para ampliar a percepção da sociedade sobre a força das pessoas com deficiências.

Maeen Al-Obaidi

Maeen Al-Obaidi, Iêmen

Advogada

A guerra no Iêmen ficou mais violenta este ano, e a advogada Maeen Al-Obaidi continua seu trabalho com foco na restauração da paz na cidade sitiada de Taiz. Ela assumiu o papel de mediadora, facilitando a troca de prisioneiros entre os grupos que estão em conflito. Apesar de nem sempre ela conseguir levar os combatentes vivos de volta para suas famílias, ela tenta garantir também a devolução dos corpos.

Voluntária na União de Mulheres do Iemen para defender mulheres presas, Al-Obaidi também foi a primeira mulher promovida ao Sindicato de Advogados, coordenando o comitê de liberdades e direitos humanos.

Zar Amir-Ebrahimi

Zar Amir-Ebrahimi, Irã

Atriz

Este ano, a atriz e produtora Zar Amir-Ebrahimi saiu premiada como melhor atriz no Festival de Cannes, por seu papel em Holy Spider, um filme baseado em fatos reais sobre um serial killer que tinha como alvo trabalhadoras do sexo. Zar Amir-Ebrahimi é a primeira iraniana a receber esse prêmio em Cannes.

Zar Amir-Ebrahimi teve de deixar o Irã para evitar perseguições e processos, depois que um vídeo com imagens íntimas suas foi vazado e de ela ter sido vítima de uma campanha de difamação sobre um relacionamento amoroso anterior. Em 2008 ela se mudou para Paris, onde fundou a produtora Alambic Production e deu sequência a uma carreira impressionante, na frente e atrás das câmeras.

Fatima Amiri

Fatima Amiri, Afeganistão

Estudante

A adolescente Fatima Amiri é uma das sobreviventes de um ataque suicida a um centro de ensino em Kabul que matou mais de 50 pessoas, em sua maior parte jovens estudantes mulheres. Seus feriamentos foram muito graves e resultaram na perda de uma vista.

Enquanto se recuperava, ela estudou para os exames de admissão na universidade em outubro, alcançando 85% de acerto. Seu sonho agora é estudar ciência da computação na Universidade de Kabul. Ela diz que ficar cega de um olho a tornou ainda mais forte e determinada.

Aye Nyein Thu

Aye Nyein Thu, Mianmar

Médica

Aye Nyein Thu é voluntária na linha de frente de áreas de crise em Mianmar, na região pobre e remota do Estado de Chin. Ela construiu um hospital improvisado com uma pequena sala de cirurgia, em novembro de 2021 e, desde então, tem cuidado de pessoas feridas e doentes.

No seu tempo livre, ela viaja para outras regiões onde, em sua maioria, não há tratamento médico disponível, para cuidar de quem precisa, inclusive refugiados internos. No decorrer de seu trabalho, foi processada pelas forças armadas de Mianmar por “incitar a violência”. Os militares a acusam de apoiar grupos locais de milicianos conhecidos como Forças de Defesa do Povo.

Velmariri Bambari

Velmariri Bambari, Indonésia

Ativista

Trabalhando numa região remota da Indonésia, Velmariri Bambari luta pelas vítimas de violência sexual na província de Célebres Central. Ela conseguiu convencer as autoridades locais a romperem com a lei local e não impor mais multas às mulheres que sofrem abusos.

Segundo essa lei, baseada em costumes, a sanção chamada “limpando a cidade” estabelece que violadores de valores tradicionais devem pagar uma multa. E isso também se aplica às vítimas. Por causa de sua campanha, Bambari é sempre a primeira pessoa contactada pela polícia quando algum caso de violência sexual é registrado. Foram inúmeros casos só este ano.

Apesar da minha deficiência física, quero dedicar minha energia para fortalecer mulheres ao meu redor, criando oportunidades que as permitam alcançar independência financeira.

Sirisha Bandla

Sirisha Bandla, Índia

Engenheira aeronáutica

Sirisha Bandla chegou ao limite do espaço como parte da histórica missão Unity 22, em 2021, o primeiro voo suborbital tripulado da Virgin Galactic, de Richard Branson. Bandla foi a segunda mulher de origem indiana a viajar pelo espaço.

Ela se interessou por viagens espaciais desde cedo. Estudou engenharia aeronáutica nos Estados Unidos e agora é vice-presidente do Relações Governamentais e Pesquisas da Virgin Galactic, uma função que inclui trabalhar com clientes interessados em levar experimentos científicos e tecnológicos a bordo das naves espaciais da Virgin.

Sunny Leone

Indicada pela atriz Sunny Leone, vencedora de 2016.

“Numa indústria dominada por homens, Sirisha superou todas as dificuldades e seguiu adiante contando apenas com sua dedicação e trabalho duro, o que faz dela uma inspiração para mim, e mais ainda para todas as jovens com sonhos parecidos.”

Victoria Baptiste

Victoria Baptiste, Estados Unidos

Enfermeira e educadora para a vacinação

Victoria Baptiste, enfermeira no Estado de Maryland, dedica-se a esclarecer e educar as pessoas sobre as vantagens de se vacinar porque entende perfeitamente os motivos que levam a comunidade negra a desconfiar das intervenções médicas: ela é descendente de Henrietta Lacks, uma mulher negra que morreu em 1951 de câncer cervical e cujas células malignas foram retiradas, sem seu consentimento, para pesquisas em laboratório.

Conhecidas como células HeLa, elas têm sido usadas em pesquisas médicas desde então mas a família permaneceu décadas sem essa informação. Baptiste hoje é membro da Fundação Henrietta Lacks e embaixadora da boa vontade da Organização Mundial de Saúde para a eliminação do câncer cervical.

Niloufar Bayani

Niloufar Bayani, Irã

Ecologista

A conservacionista Niloufar Bayani foi uma das muitas ambientalistas presas no Irã em 2018, depois de usar câmeras para identificar espécies ameaçadas. Bayani e os demais ativistas presos foram acusados de usar informação sigilosa sobre áreas estratégicas e sensíveis. Bayani foi condenada a dez anos de prisão.

Bayani foi gerente de programa da Persian Wildlife Heritage Foundation, organização dedicada à proteção do guepardo asiático e outras espécies. Em documento obtido pela BBC Persa, Bayani disse ter sido submetida pela Guarda Revolucionária às piores torturas, mental, emocional e física, além de ameaças sexuais por pelos menos 1.200 horas”. As autoridades iranianas negam as acusações.

Nathalie Becquart

Nathalie Becquart, Vaticano

Freira

Nomeada pelo papa Francisco como subsecretária do sínodo – assembleia periódica dos bispos católicos – Becquart foi a primeira mulher a ocupar um cargo no grupo de líderes que aconselham o papa sobre temas importantes para a Igreja Católica, além de ser a única mulher com direito a voto. O secretário-geral da assembleia dos bispos reconhece que “sua indicação abre uma porta” importante para as mulheres na Igreja.

Antes do sínodo, a freira de origem francesa da Congregação dos Xavières tinha sido a primeira diretora mulher do Serviço Nacional pela Evangelização dos Jovens e das Vocações na França.

Conforme afirmou o papa Francisco, “é um dever de justiça lutar contra todo tipo de discriminação e violência contra as mulheres…Juntos, precisamos apoiar de algum jeito a entrada de mais mulheres em posições de liderança em todos os níveis.”

Taisia Bekbulatova

Taisia Bekbulatova, Rússia

Jornalista

Reconhecida jornalista russa, Taisia Bekbulatova criou uma empresa de mídia independente, a Holod, em 2019. A organização tem feito reportagens sobre a guerra na Ucrânia, assim como publicado histórias sobre desigualdade, violência e direitos femininos. O website foi bloqueado na Rússia pelas autoridades em abril, numa série de atos para reprimir a imprensa independente.

Apesar disto, Bekbulatova e sua equipe continuam fazendo seu trabalho, e conquistando mais audiência. Taisia Bekbulatova deixou a Rússia em 2021 depois de ser rotulada “agente estrangeiro”, e viajou para a Ucrânia de onde reporta diretamente da linha de frente.

Eu não acredito que o progresso seja inevitável. A civilização moderna sempre pareceu muito frágil e fácil de destruir. E geralmente os direitos das mulheres são os primeiros a desaparecer.

Kristina Berdynskykh

Kristina Berdynskykh, Ucrânia

Jornalista

Desde que a guerra começou na Ucrânia, a premiada jornalista Kristina Berdynskykh tem viajado pelo país fazendo reportagens em regiões sob ataque russo. Muito do seu trabalho procura destacar os detalhes da vida cotidiana numa cidade em conflito.

Nascida em Kherson, Berdynskykh trabalha como jornalista política há 14 anos em Kiev, tendo passado por revista, televisão e rádio. Ela foi a idealizadora do e-People, um projeto digital sobre os participantes da Revolução Euromaidan da Ucrânia, que mais tarde deu origem a um livro.

Selma Blair

Selma Blair, Estados Unidos

Atriz

Conhecida por seus papéis nos clássicos da cultura pop Legalmente Loura, Hellboy e Segundas Intenções, Selma Blair é uma atriz norte-americana do cinema e da televisão.

Ela foi diagnosticada com esclerose múltipla em 2018 e tem sido reconhecida por seu empenho em aumentar a conscientização sobre a doença, falando de uma forma muito franca sobre sua jornada e os desafios que enfrenta. Este ano, ela lançou seu livro de memórias Mean Baby, e se juntou a uma marca inclusiva de maquiagem como consultora para o desenvolvimento de cosméticos adaptados ergonomicamente para pessoas com habilidades reduzidas.

Sou uma mulher que carrega um passado difícil. Eu poderia ser julgada por uma série de coisas e poderia ter meu poder desarmado com muita facilidade, mas foi por meio do apoio de outras mulheres que eu cheguei até aqui.

Tarana Burke

Tarana Burke, Estados Unidos

Ativista

Tatiane Burke foi quem começou, em 2006, o movimento que se tornaria a maior campanha global para aumentar a conscientização sobre assédio e violência sexual contra as mulheres, criando o termos que viria a ser compartilhado por milhões de pessoas no mundo todo: o #MeToo. Há cinco anos, a hashtag circula pelas redes sociais, denunciando casos que poderiam ter continuado escondidos.

Foi um tuíte da atriz Alyssa Milano, em 2017, que ampliou o #MeToo, deflagrando o diálogo global sobre como as mulheres são tratadas, fortalecendo a voz das vítimas. Ela própria vítima de assédio, Burke continua empenhada em campanhas para mudar comportamentos.

Mulheres cortando seu próprio cabelo

Mulheres cortando seu próprio cabelo, Irã

Manifestante

Prostestos generalizados explodiram no Irã depois da jovem curda Mahsa Amini, de 22 anos, ter morrido sob custódia da polícia da moralidade em Teerã no dia 13 de setembro. Amini tinha sido detida por supostamente ter violado as rigorosas regras iranianas que exigem que as mulheres cubram os cabelos com hijab, ou um lenço.

Este ano, queremos reconhece o papel que as mulheres estão desempenhando nos protestos, na luta por sua liberdade e contra o uso obrigatório do hijab.

Cortar o cabelo virou um dos símbolos do movimento de protesto que se espalhou entre celebridades, políticos e ativistas em todo o mundo. Entre algumas comunidades mais tradicionais no Irã, o ato é entendido como um sinal de luto.

Sandy Cabrera Arteaga

Sandy Cabrera Arteaga, Honduras

Defensora dos direitos reprodutivos

Estudante de filosofia, escritora e feminista, Sandy Cabrera Arteaga é uma defensora dos direitos sexuais e reprodutivos. Ela ministra oficinas sobre a pílula do dia seguinte e é porta-voz do “Hablemos Lo Que Es” (Falemos sobre o que é), uma campanha educativa e plataforma digital com informações sobre métodos contraceptivos de emergência.

Ela também trabalha para a Acción Joven (Ação Jovem), uma iniciativa voltada para os direitos humanos, reprodutivos e sexuais da juventude. Fluente na linguagem hondurenha de sinais, e como filha única de uma mãe solteira e surda, Arteaga se orgulha da criação inclusiva e atenciosa que teve.

Ona Carbonell

Ona Carbonell, Espanha

Nadadora

A nadadora artística espanhola Ona Carbonell, atleta de elite com três Olimpíadas no currículo e mais de 30 medalhas – sendo uma de bronze e uma de prata, ambas olímpicas – se tornou uma voz importante para naturalizar a visão da maternidade no mundo do esporte.

Em 2020, ela começou a treinar para as olimpíadas de Tóquio logo após dar à luz o primeiro filho. As regras das autoridades japonesas, rígidas demais, impossibilitaram que ela amamentasse o filho durante o evento. Carbonell passou então a falar abertamente sobre sua decepção. Este ano, ela se tornou mãe pela segunda vez e contou sua história num documentário a fim de encorajar outras atletas a abraçarem a ideia de que maternidade e esporte são compatíveis.

María Fernanda Castro Maya

María Fernanda Castro Maya, México

Ativista dos direitos das pessoas com deficiência

Com deficiência intelectual, Fernanda Castro luta para que outras pessoas como ela possam participar da vida política. Ela integra um grupo de ativistas apoiado pela Human Rights Watch que advoga pela inclusão de pessoas com limitações intelectuais e cognitivas nas políticas públicas, articulando essa estratégia diretamente com os partidos políticos do México.

Seu trabalho inclui acessibilidade linguística em documentos relativos a decisões políticas, além da inclusão de pessoas com deficiência intelectual nos partidos políticos, em cargos eletivos e eventos eleitorais. Maya é parte da rede global Inclusion International e foi da delegação mexicana que levou à ONU um relatório sobre os direitos das pessoas com deficiência.

Sarah Chan

Sarah Chan, Sudão do Sul

Olheira da NBA

Ex-jogadora profissional de basquete, Sarah Chan hoje treina adolescentes e ensina o esporte em vários países do continente africano. Ela agora é mentora e treinadora de adolescentes do Sudão do Sul e do Quênia. Ela também é a primeira olheira feminina identificando na África potenciais jogadoras para o time de basquete da NBA Toronto Raptors.

Após fugir da guerra em Cartum, no Sudão, Sarah Chan e sua família se mudaram para o Quênia onde ela começou a sua carreira no basquete. Através do basquete, ela ganhou uma bolsa de estudos da Universidade Union, em Jackson, no Estado americano do Tennessee, e jogou profissionalmente na África e na Europa. Chan fundou a Home At Home/Apediet Foundation, uma ONG que luta contra casamentos de meninas muito jovens, luta em defesa da educação e usa o esporte como forma de educar os jovens.

Você é aquilo que acredita ser are, portanto, acredite em um futuro que faça jus a todos os seus sonhos e aspirações.

Priyanka Chopra Jonas

Priyanka Chopra Jonas, Índia

Atriz e produtora

Protagonista de mais de 60 filmes, Priyanka Chopra Jonas é uma das principais e mais bem pagas atrizes de Bollywood, a indústria cinematográfica indiana. Depois de sua estreia em 2002, a ex-miss mundo brilhou em Hollywood como a primeira atriz do sul asiático a protagonizar uma série dramática na TV americana (Quantico, 2015).

Sua lista de sucessos em Hollywood inclui a comédia romântica Isn’t It Romantic e Matrix Ressurrections, a quarta sequência do sucesso protagonizado por Keanu Reeves. Chopra abriu sua própria produtora para rodar filmes na Índia. Ela também é embaixadora da Boa Vontade da Unicef, na defesa dos direitos das crianças e da educação para meninas.

O movimento MeToo e as vozes feminas coletivas que surgiram na sequência se juntaram para proteger umas às outras, para defender cada uma de nós – há algo de muito poderoso nessa união.

Sanjida Islam Choya

Sanjida Islam Choya, Bangladesh

Estudante

Bangladesh tem uma das maiores taxas de casamento infantil no mundo, mas Sanjida Islam Choya está tentando mudar isso. A mãe dela também casou muito nova. Inspirada por um trabalho escolar sobre as consequências do casamento precoce, ela decidiu agir.

Choya e suas amigas, professores e colaboradores se autodenominam Ghashforing (Gafanhotos) e denunciam os casamentos infantis à polícia. Agora, na universidade, Choya deu continuidade ao trabalho, oferecendo mentoria a novos integrantes do grupo. Até hoje, eles conseguiram evitar que pelo menos 50 crianças fossem obrigadas a casar.

Chanel Contos

Chanel Contos, Austrália

Ativista pelo consentimento sexual

Contos fundou o movimento batizado de Teach Us Consent (Ensina-nos a consentir) que prega a educação sexual com uma visão holística. Em 2021, ela perguntou aos seus seguidores do Instagram se eles, ou alguém que conheciam, sabiam de casos de assédio sexual na escola. Em 24 horas, mais de 200 pessoas responderam ‘sim’.

Contos lançou então uma petição solicitando a inclusão de educação para o consentimento sexual em seu país. Graças à campanha, a matéria será obrigatória em todas as escolas australianas, do jardim de infância ao início do ensino médio, a partir de 2023. Mais recentemente, ela tem se dedicado a educar as pessoas sobre os riscos da retirada não-consensual do preservativo durante as relações sexuais, pedindo que o ato seja criminalizado.

Eva Copa

Eva Copa, Bolívia

Política

Ex-líder estudantil de origem Aymara, Eva Copa está revolucionando a política na Bolívia. Depois de ser preterida pelo partido como candidata à prefeitura de El Alto, a segunda maior cidade da Bolívia, ela se posicionou contra o candidato do partido e acabou ganhando as eleições com 69% dos votos. Mais recentemente, Copa anunciou o plano da cidade para mulheres, cujo objetivo é fortalecer os direitos femininos por meio de políticas públicas e investimento.

Copa não é uma novata na política. Foi senadora entre 2015 e 2020. Seu rompimento com o partido governista é visto como uma guinada que favorece um cenário político mais diversificado na Bolívia.

Precisamos de mais mulheres na liderança: mulheres de pé, nunca ajoelhadas.

Heidi Crowter

Heidi Crowter, Reino Unido

Ativista pró-pessoas com deficiência

Heide Crowter quer mudar a percepção dos britânicos sobre pessoas com Síndrome de Down. Ela levou o governo britânico à Justiça por causa da lei que permite o aborto de fetos portadores da síndrome até o dia do nascimento, argumentando que a legislação era discriminatória. A Alta Corte rejeitou sua ação e afirmou que a lei pretende encontrar um equilíbrio entre os direitos das mulheres e dos não nascidos. Crowter apelou contra a decisão, mas, em novembro, perdeu. Ela disse que, junto de sua equipe, pretende se manter na luta e levar o caso até a Suprema Corte.

Ela é uma das patrocinadoras do Positive About Down e idealizadora do National Down Syndrome Policy Group. Seu livro, I’m Just Heidi foi publicado em agosto.

Eu quero que as grávidas recebam informações corretas sobre a Síndrome de Down. Eu quero que as pessoas se atualizem e nos vejam pelo que realmente somos!

Billie Eilish

Billie Eilish, Estados Unidos

Cantora e compositora

Vencedora do Grammy, a superstar e recordista de vendas, Billie Eilish é reconhecida mundialmente por ampliar as fronteiras da música – desde o single Your Power que denuncia a exploração de meninas menores de idade, ao All The Good Girls Go To Hell, uma canção sobre mudanças climáticas.

Eilish fez história este ano ao se tornar a mais jovem atração principal do Glastonbury – o maior festival de música ao ar livre do mundo, realizado na Inglaterra – e por usar sua performance para protestar contra a decisão da Suprema Corte americana que suspendeu o direito constitucional ao aborto. Eilish fala abertamente sobre a imagem do corpo e como lida com depressão e a Síndrome de Tourette, uma condição neurológica que afeta o controle de impulsos e leva ao desenvolvimento de tiques.

Estou maravilhada com o momento que vivemos. As mulheres estão no auge. Houve um período específico em que eu me sentia no fundo do poço porque não havia meninas como eu sendo levadas a sério.

Sandya Eknaligoda

Sandya Eknaligoda, Sri Lanka

Ativista dos direitos humanos

Ativista dos direitos humanos, Sandya Eknaligoda ajuda milhares de esposas e mães que perderam entes queridos na guerra civil do Sri Lanka. Seu marido, Prageeth Eknaligoda, um proeminente jornalista investigativo e cartunista, está desaparecido desde janeiro de 2010. Ele era um crítico ferrenho do governo e investigava alegados abusos contra o movimento separatista Tamil Tiger.

Sou uma mulher que aproveita todas as chances para lutar em nome das outras, que se envolve num esforço criativo e que, com dedicação e sacrifício, supera obstáculos em meio a insultos e calúnia.

Sou uma mulher que luta em nome das outras em toda oportunidade, que se envolve num esforço criativo e supera desafios em meio a insultos e calúnia, por meio de dedicação e sacrifício.

Gohar Eshghi

Gohar Eshghi, Irã

Ativista

Gohar Eshghi se tornou um símbolo de resistência e perseverança no Irã. Seu filho, Sattar Beheshti, era um blogueiro que morreu sob custódia há uma década. Desde então, Eshghi clama e pressiona por justiça, acusando as autoridades iranianas de tortura e assassinato.

Ela é uma das Complainant Mothers (Mães Reclamantes), grupo que luta por justiça pelo assassinato de seus filhos, e signatária da petição de 2019 que pressiona pela renúncia do Ayatollah Ali Khamenei, o líder supremo do Irã, a quem responsabiliza pessoalmente pela morte de seu filho. Durante os protestos deste ano, deflagrados após a morte de Mahsa Amini, Eshghi tirou seu hijab em solidariedade às manifestantes.

Joy Ngozi Ezeilo

Joy Ngozi Ezeilo, Nigéria

Professora de Direito

Decana emérita de Direito da Universidade da Nigéria a ex-relatora especial da Organização das Nações Unidas sobre Tráfico Humano, Joy Ezello é uma liderança no campo internacional dos direitos humanos.

Ezello ajudou a fundar e dirige o Women Aid Colletive (WACOL), organização que nos últimos 25 anos garantiu assessoria jurídica e abrigo para mais de 60 mil mulheres vulneráveis na Nigéria. Ela também fundou a Tamar Sexual Assault Referral Centre, para oferecer uma resposta rápida a vítimas de abuso sexual.

Chimamanda Ngozi Adichie

Indicada pela vencedora de 2021, a escritora Chimamanda Ngozi Adichie

A professora Ezello vem ajudando muitas pessoas por meio de suporte jurídico gratuito aos mais pobres, em especial mulheres e meninas cujos direitos têm sido violados.

Ibijoke Faborode

Ibijoke Faborode, Nigéria

Fundadora da ElectHER

Por meio da ElectHER, Ibjoke Faborode está transformando o movimento político feminino na Nigéria. A organização, cujo objetivo é reduzir as discrepâncias na representação política, já inseriu mais de 2 mil mulheres na política em todo o continente africano. Com a campanha #Agender35 (um trocadilho que une agenda e gênero em inglês), sua organização apoia com recursos financeiros e humanos 35 mulheres que concorrem a cargos políticos locais ou nacionais na eleição geral de 2023.

Faborode também está por trás do primeiro app africano feminista para análise de dados. Ela hoje trabalha para a Leadership Council of the Democracry and Culture Foundation, que identifica novas maneiras de melhorar os processos democráticos.

Samrawit Fikru

Samrawit Fikru, Etiópia

Empreendedora de tecnologia

Samrawit Fikru só foi usar um computador depois dos 17 anos e se tornou uma empreendedora da tecnologia com sua empresa, a Hybrid Designs, que criou o aplicativo etíope de táxi, o RIDE.

Com a memória ainda fresca sobre a desagradável experiência de pegar táxis sozinha depois do trabalho e lidar com motoristas que queriam cobrar a mais, Fikru criou o aplicativo. O projeto saiu do papel com menos de US$ 2 mil (ou pouco menos de R$ 11 mil). Sua empresa agora emprega em grande parte mulheres a fim de inspirar a nova geração de empreendedoras num país onde elas ainda são minoria na indústria tech.

Negócios liderados por mulheres estão crescendo em número, agora precisamos que essas jovens tenham acesso a financiamento para que suas ideias criativas cresçam.

Ceci Flores

Ceci Flores, México

Ativista

Em 2015, homens armados levaram Alejandro, o filho de Ceci Flores, à época com 21 anos. Quatro anos depois, outro de seus filhos, Marco Antonio, 31, foi sequestrado por uma quadrilha. Ela diz que seu ativismo vem do medo de morrer sem descobrir o que aconteceu com seus filhos, que engrossam as estatísticas de desaparecidos no México.

Este ano, o México bateu um marco sombrio, com 100 mil pessoas na lista de desaparecidos, situação considerada pelas Nações Unidas como “uma tragédia de enormes proporções”. Sob a liderança de Flores, o coletivo Madres Buscadoras de Sonora (Mães Que Procuram) já ajudou a localizar em covas clandestinas mais de mil pessoas desaparecidas.

Geraldina Guerra Garcés

Geraldina Guerra Garcés, Equador

Ativista anti-feminicídio

Defensora do direito das mulheres há mais de 17 anos, Geraldina Guerra Garcés trabalha para proteger as vítimas de violência no Equador. Ela se especializou no levantamento de informações para dar mais visibilidade aos feminicídios – assassinato de mulheres por causa do gênero.

Ela está por trás da iniciativa Cartografias da Memória, uma espécie de mapa de vida das vítimas de feminicídio, para manter viva a memória dessas mulheres e incentivar uma mudança cultural de atitudes. Guerra identifica e localiza os assassinatos para a Aliança Feminista e a Rede Latino-Americana Contra Violência de Gênero. Ela também representa a Aldea Foundation e a rede equatoriana de abrigos para mulheres.

Sem uma ação efetiva para prevenir feminicídios, não haverá avanço para ninguém. Apesar da nova legislação aprovada, continuamos sendo assassinadas, e isso tem que mudar.

Wegahta Gebreyohannes Abera

Wegahta Gebreyohannes Abera, Tigré, Etiópia

Trabalhadora humanitária

Uma prestadora de ajuda humanitária, Wegahta Gebreyohannes Abera é também a fundadora da Hidrina, uma organização sem fins lucrativos, que tem por objetivo erradicar a subnutrição em Tigré. A Hidrina mantém projetos de apoio às mulheres e crianças afetadas pela guerra, incluindo um programa emergencial de alimentação em um acampamento para pessoas deslocadas pelo conflito (IDP) além de um projeto urbano de jardinagem.

A organização também lançou iniciativas para promover o empoderamento de mulheres vítimas de violência sexual relacionada à guerra e mulheres que, por conta da pobreza provocada pelo conflito, se tornaram trabalhadoras do sexo.

Moud Goba

Moud Goba, Reino Unido

Ativista LGBTQI+

Há pouco mais de duas décadas, Moud Goba abandonou seu país de origem, o Zimbábue, e chegou no Reino Unido como refugiada LGBTQI+, Todo esse tempo, ela tem trabalhado com organizações que promovem a integração de pessoas em busca de asilo. Ela é gerente nacional do Micro Rainbow, que oferece abrigo para refugiados LGBTQI+, e também cuida do programa de moradia, que oferece 25 mil camas por ano aos sem-teto, além de estar envolvida com o programa de empregabilidade.

Goba gerenciou o processo de integração de refugiados LGBTQI+ que chegaram ao Reino Unido vindo do Afeganistão. Ela é um dos membros fundadores do UK Black Pride e atual presidente de seu conselho de curadores.

Dilek Gürsoy

Dilek Gürsoy, Alemanha

Cirurgiã cardiovascular

Filha de imigrantes turcos, nascida na Alemanha, a médica Dilek Gürsoy é especialista em cirurgia do coração e coração artificial. Ela estampou a capa da revista Forbes na Alemanha depois de se tornar a primeira mulher a realizar um implante de um coração artificial.

Ela tem estado na linha de frente da pesquisa sobre coração artificial há mais de uma década, com o intuito de desenvolver alternativas para transplante devido ao baixo índice de doações do órgão. Sua pesquisa também dirige um olhar especial à anatomia feminina. Ela escreveu uma autobiografia e está agora no processo de abrir sua própria clínica especializada em doenças cardíacas.

Gehad Hamdy

Gehad Hamdy, Egito

Dentista humanitária

Além de dentista, Gehad Hamdy é fundadora e gerente da Speak Up, uma iniciativa feminista no Egito que usa sua plataforma nas redes sociais para denunciar os perpetradores de crimes de gênero e de assédio sexual. O Egito registrou, este ano, uma série de crimes violentos contra mulheres, o que deixou o assunto em evidência.

A Speak Up encoraja mulheres a denunciar abusos, e também oferece apoio emocional e jurídico, colocando pressão nas autoridades para agir. A campanha de Hamdy tem conquistado amplo reconhecimento, tendo recebido o prêmio de igualdade de direitos e não discriminação no Fórum Mundial de Justiça de 2022.

Há um longo caminho a percorrer; não estamos nem perto do final. Na verdade, mal começamos a trilhá-lo.

Sofía Heinonen

Sofía Heinonen, Argentina

Conservacionsta

Há mais de 30 anos, Sofía Heinonen vem contribuindo com a criação de áreas de preservação. Empenhada na proteção da biodiversidade, a bióloga liderou os primeiros esforços para reverter a crise de extinção na América do Sul, com a revitalização do Esteros del Iberá, o principal ecossistema de zonas úmidas da Argentina e um dos maiores do mundo.

Sob sua liderança, o projeto Rewilding Argentina está presente em quatro ecoregiões, incluindo a estepe da Patagônia, seguindo um modelo de intervenção que procura transformar terras privadas em parques nacionais protegidos, com a reintrodução de espécies nativas, a restauração de ecossitemas e o incentivo ao ecoturismo sustentável.

Judith Heumann

Judith Heumann, Estados Unidos

Defensora dos direitos das pessoas com deficiência

Judith Heumann dedica sua vida à luta pelos direitos das pessoas com deficiência. Depois de contrair pólio quando criança, ela se tornou a primeira cadeirante a trabalhar como professora na cidade de Nova York.

Ela é internacionalmente reconhecida como uma liderança de movimentos pró-pessoas com deficiência e seu ativismo – como o protesto que resultou na mais longa ocupação de um edifício federal nos Estados Unidos – a levou a desempenhar um papel significativo na implementação de uma legislação mais avançada e inclusiva. Heumann trabalhou nos governos Clinton e Obama, e tem mais de 20 anos de experiência em organizações sem fins lucrativos.

Indicada pela ativista Shani Dhanda, vencedora de 2020

Eu me sinto genuinamente inspirada pela Judith que, há mais de 30 anos, vem trabalhando para avançar com os direitos humanos de pessoas com deficiência mundo afora. Ela continua sendo uma militante incansável e parte de momentos decivisos nesse movimento.

Erika Hilton

Erika Hilton, Brasil

Política

Primeira mulher trans negra a ser eleita deputada federal no Brasil, Erika Hilton é uma ativista que luta contra o racismo, a favor dos direitos humanos e da comunidade LGBTQ+.

Ainda adolescente, foi expulsa de casa pela família conservadora e teve de morar nas ruas, antes de conseguir entrar numa universidade, onde se dedicou ao estudo de política. Ela se mudou para São Paulo, filiou-se ao PSOL, partido de esquerda, e em 2020 foi eleita vereadora. É de sua autoria o projeto de lei que resultou na criação de um fundo muncipal para combater a fome na maior cidade brasileira.

Nossa luta é por direitos iguais, salários iguais e o fim da violência de gênero contra quem quer que seja, pretos, latinos, brancos, pobres, ricos, cis ou transgêneros.

Kimiko Hirata

Kimiko Hirata, Japão

Ativista do meio ambiente

Adversária ferrenha do uso de carvão como fonte de energia, Kimiko Hirata já dedicou quase metade de sua vida à luta para reduzir a dependência do Japão de combustíveis fósseis – disparado o maior vilão da mudança climática. Sua campanha já conseguiu cancelar a construção de 17 usinas a carvão que estavam planejadas. Ela é a primeira japonesa a ganhar o prestigiado Goldman Environmental Prize, concedido a pessoas cujas ações fazem a diferença para o meio ambiente.

Hirata abandonou seu emprego numa agência publicitária para se tornar ativista ambiental nos anos 90 depois de ler o livro A Terra em Balanço, de Al Gore. Ela hoje é diretora-executiva da organização independente Climate Integrate, criada em janeiro de 2022 e que se dedica à descarbonização do planeta.

Jebina Yasmin Islam

Jebina Yasmin Islam, Reino Unido

Ativista

Pedir mais segurança para as mulheres nas ruas do Reino Unido virou uma missão para Jebina Islam desde que sua irmã, a professora Sabina Nessa, foi assassinada num parque londrino, em setembro de 2021, quando voltava para casa. Sua campanha pede alterações na lei para que os acusados sejam obrigados a comparecer ao tribunal para ouvir o sentenciamento.

Depois do assassinato de sua irmã, Islam criticou a falta de apoio do governo britânico, afirmando que essa reação era um indicativo da pouca importância dada à violência masculina. Ela também tem se pronunciado sobre discriminação racial – nós teríamos recebido um tratamento melhor, ela disse, se fóssemos uma “família britânica branca como as demais”. Islam descreve a irmã como uma “referência incrível”, uma mulher “poderosa, destemina e brilhante”.

“Ame a si mesma mais do que qualquer um no planeta.”

Ons Jabeur

Ons Jabeur, Tunísia

Jogadora de tênis

Com uma passagem impressionante pelo Torneio de Wimbledon 2022, a estrela do tênis na Tunísia, Ons Jabeur, conquistou o título de primeira mulher árabe ou africana a disputar uma final de Grand Slam, que reúne os quatro principais torneios de tênis do mundo. Meses depois, ela chegou a outra final de Grand Slam, no Aberto dos Estados Unidos.

Aos 28 anos, a jogadora chegou à segunda posição no ranking da Associação de Tênis Feminino, a melhor classificação já conseguida por atletas africanos ou árabes, homens ou mulheres. Jabeur, que começou a jogar tênis com apenas três anos de idade, ganhou três títulos individuais e vem inspirando toda uma nova geração de jogadoras.

Sneha Jawale

Sneha Jawale, Índia

Assistente social

Em dezembro de 2000, Sneha Jawale foi queimada pelo marido com querosene porque sua família não conseguiu atender um pedido para aumentar seu dote. A família sequer registrou a ocorrência na polícia. Depois que o marido partiu com o filho do casal, ela decidiu reconstruir sua vida como taróloga e roteirista – trabalhos que não exigiam a exposição de seu rosto.

Jawale, hoje assistente social, foi convidada a estrelar uma peça de teatro, Nirbhaya, nome de uma mulher estuprada por uma gangue em Deli, em 2012, e cuja história reflete a experiência de sobreviventes de violência. Atuar para diversas audiências mundo afora tem ajudado Jawale a superar seus medos e traumas.

Nos últimos dez anos, a atitude da sociedade em relação a sobreviventes de ataques com fogo e ácido vem mudando. Eu não me considero menos do que uma Miss Mundo ou Miss Universo. Eu digo que sou bonita, sim, eu sou.

Park Ji-hyun

Park Ji-hyun, Coreia do Sul

Ativista política

Como estudante universitária, Park Ji-hyun ajudou anonimamente a desmantelar uma das maiores quadrilhas de crimes sexuais da Coreia do Sul, conhecida como Nth rooms (quartos Nth). Este ano, ela veio a público contar essa experiência e entrou para a política, conectando-se com jovens eleitoras.

Depois de perder a eleição presidencial, o Partido Democrático a nomeou co-líder interina. Ela também assumiu a comissão de mulheres, cujo foco é combater os crimes sexuais. Em junho, o partido registrou mais perdas nas urnas e ela renunciou. Enquanto não assume outro papel, Ji-hyun continua comprometida em promover a equidade de gênero na política.

No mundo todo, crimes sexuais digitais ameaçam os direitos das mulheres e precisamos resolver esse problema de forma solidária.

Zahra Joya

Zahra Joya, Afeganistão

Jornalista

Durante seis anos de regime Talibã, Zahra Joya respondia como ‘Mohammad’ e se vestia como um menino para poder frequentar a escola. Quando forças militares lideradas pelos Estados Unidos derrubaram os talibãs em 2001, ela voltou à escola como Zahra. Ela começou a trabalhar como jornalista em 2011 e era sempre a única repórter mulher na redação.

Zahra Joya fundou o Rukhshana Media, uma agência de notícias com foco na cobertura de temas que afetam mulheres afegãs, e batizada em homenagem à jovem de 19 anos apedrejada até a morte pelo Talibã. Joya teve de fugir do Afeganistão em 2021, exilando-se no Reino Unido, de onde toca sua agência de notícias. Este ano, ela recebeu o prêmio Changemaker da Fundação Gates.

Acredito no poder das palavras. Precisamos falar sobre injustiças cometidas contra mulheres.

Reema Juffali

Reema Juffali, Arábia Saudita

Piloto de corrida

Em 2018, Reema Juffali fez história ao se tornar a primeira mulher saudita piloto de corrida profissional. Este ano, ela começou sua própria escuderia, a Theeba Motorsport, para competir no International GT Open e melhorar o acesso e a participação dos sauditas ao esporte. Com a sua equipe, ela tem criado diversas oportunidades educacionais e programas para aumentar a diversidade na corrida de carros.

Juffali – que aprendeu a pilotar no Reino Unido quando suas conterrâneas sequer tinham autorização para dirigir na Arábia Saudita – vem inspirando uma geração de pilotos mulheres em todo o mundo. Sua próxima aspiração é participar da prestigiada corrida 24 Horas de Les Mans 24 com a Theeba Motorsport.

Muitos estereótipos persistem para as mulheres. O apoio precisa vir de casa e também da sociedade, para que uma mudança significativa e duradoura aconteça.

Kadri Keung

Kadri Keung, Hong Kong

Estilista

Projetar roupas esteticamente agradáveis para idosos e corpos com diferentes condições é uma paixão para Kadri Keung. Ela iniciou a marca de moda adaptativa RHYS com sua mãe, Ophelia Keung, em 2018, inspirada pelo cuidado com sua avó. A experiência fez com que percebesse como as peças de vestuário para os idosos muitas vezes carecem de estilo e funcionalidade.

Formada em design de roupas, Keung combina seu conhecimento com as necessidades do cliente, sejam elas fechos de velcro ou uma bolsa para segurar um cateter. Sua marca já empregou e treinou 90 mulheres desfavorecidas, incluindo algumas com deficiências. Em 2022, Keung iniciou a Boundless, uma marca inclusiva que promove artigos funcionais de moda.

Judy Kihumba

Judy Kihumba, Quênia

Intérprete de linguagem de sinais

Defensora dos direitos à saúde e ao bem estar de mães e mulheres surdas que amamentam, Judy Kihumba percebeu que nem todos os hospitais no Quênia contavam com intérpretes da linguagem de sinais e passou a trabalhar para fechar esta lacuna e oferecer informações sobre os cuidados com a saúde para todas as mulheres.

Ela fundou a Talking Hands, Listening Eyes on Postpartum Depression (Mãos que Falam, Olhos que Escutam sobre Depressão Pós-Parto) para ajudar mulheres que não contam com escuta atenciosa na jornada muitas vezes desafiante da maternidade. Kihumba criou a organização depois de passar por depressão pós-parto em 2019. Este ano, ela realizou o primeiro chá de bebê, que reuniu 78 mulheres portadoras de deficiência auditiva, com médicos e orientadores.

Marie Christina Kolo

Marie Christina Kolo, Madagascar

Empreendedora do clima

Ecofeminista e empreendedora social ambiental, Maria Christina Kolo integrou a delegação oficial de Madagascar à COP27. Ela milita pelos direitos humanos e questões de gênero ligadas à mudança climática, visto que seu país enfrenta secas consecutivas severas que dificultam o acesso de milhões de pessoas à comida. As Nações Unidas se referem ao drama de Madagascar como a primeira crise de fome provocada pela mudança climática.

Kolo é diretora regional da ONG People Power Inclusion (Pessoas Poder Inclusão), cujo objetivo é combater a pobreza por meio da economia sustentável. Sua empresa social, Green’N’Kool, é uma plataforma nacional que lidera a luta por justiça climática. Como uma sobrevivente de violência de gênero, ela também criou o movimento Women Break the Silence (Mulheres Rompem o Silêncio), para lutar contra a cultura do estupro.

Não queremos apenas ser vistas como vítimas do impacto climático, do patriarcado e da violência. Eu me sinto tão otimista e orgulhosa quando percebo o quanto as mulheres conseguem ser resilientes, apesar de todas as dificuldades.

Iryna Kondratova

Iryna Kondratova, Ucrânia

Pediatra

Apesar de estarem sob pesado bombardeio, Iryna Kondratova e sua equipe continuaram cuidando incansavelmente de grávidas, recém-nascidos e mães no Centro Perinatal de Kharkiv. Eles começaram com a sala de parto no porão do hospital, e arriscaram suas vidas permancendo na unidade neonatal de cuidados intensivos, de onde os bebês não podiam ser removidos, mesmo quando as sirenes de emergência soavam.

Diretora do hospital, Iryna Kondratova recebeu acesso ao Instagram do jogador inglês David Beckham, em março, para chamar atenção para os desafios que enfrentam. Sua equipe tem garantido apoio médico e psicológico para mais de 3 mil mulheres de Luhansk e Donetsk, províncias separatistas, desde 2014.

Nossas casas, estradas, usinas de energia, hospitais e vidas foram destruídos, mas nossos sonhos, nossa esperança e nossa fé continuam vivos e mais fortes do que nunca.

Asonele Kotu

Asonele Kotu, África do Sul

Empreendedora de tecnologia

A ideia para começar o empreendimento surgiu depois que Asonele Kotu decidiu remover o contraceptivo implantado mas não encontrou ninguém que pudesse ajudá-la. Ela criou então a FemConnect, uma startup, que por meio da tecnologia, cria soluções para aliviar a pobreza menstrual e prevenir gravidez de adolescentes.

A plataforma permite que os usuários tenham acesso à telemedicina sobre saúde sexual e reprodutiva sem estigmas ou discriminação, assim como a produtos de higiene feminina e contraceptivos, que podem ser pedidos da mesma forma como se pede comida online. Kotu é uma entusiasta da ideia de erradicar a pobreza menstrual e melhorar a qualidade dos cuidados com a saúde, em especial para a juventude mais vulnerável e marginalizada em comunidades carentes.

Tem sido lindo assistir a determinação de jovens para criar soluções para os problemas, garantindo que a próxima geração não passe pelas dificuldades que nossos pais enfrentaram.

Layli

Layli, Irã

Manifestante

Uma das imagens mais icônicas dos recentes protestos no Irã é o de uma jovem, fotografada por trás enquanto ajeita seu cabelo num rabo de cavalo e se prepara para continuar protestando nas ruas. Seu retrato é o símbolo da coragem dessas manifestantes. Ela foi equivocadamente identificada como Hadis Najafi, uma jovem de 22 anos morta durante as manifestações.

Em entrevista à BBC Persa, a jovem do retrato declarou que ela lutaria “por pessoas como Hadis Najafi e Mahsa Amini”. O regime iraniano, ela disse, “não nos amedronta com suas ameaças de morte. Nós temos esperança na liberdade do Irã.”

Mie Kyung (Miky) Lee

Mie Kyung (Miky) Lee, Coreia do Sul

Produtora

Apaixonada defensora das artes, Miky Lee lidera uma onda cultural coreana. Ela é a principal força por trás do sucesso global K-pop e uma arquiteta no festival de música KCON. Ela também é a produtora-executiva de Parasita, o primeiro filme em língua estrangeira premiado com o Oscar de melhor fotografia.

Lee é vice-presidente do conglomerado de entretenimento e mídia sul-coreano CJ ENM, que atua na produção de filmes, programas de televisão e música, além de operar TV a cabo.

Rebel Wilson

Indicada pela vencedora de 2021, a atriz Rebel Wilson

“Ela encarna o GIRL POWER total, e é um modelo para mim. Ela representa e promove sua cultura para o mundo e tem estilo.” – Rebel Wilson

Ursula von der Leyen

Ursula von der Leyen, Alemanha

Presidente da Comissão Europeia

Primeira mulher a ocupar a presidência da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen também trabalhou na equipe da ex-primeira-ministra Angela Merkel, tendo sido ainda a primeira mulher indicada para o cargo de ministra da Defesa na Alemanha.

Nascida em Bruxelas, na Bélgica, Leyen estudou economia e medicina antes de entrar para a política. Foi em 2019 que ascendeu à liderança da União Europeia, conduzindo desde então situações complexas como o Brexit – que marcou a saída do Reino Unido do bloco europeu – a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia. Sua influência foi chave para a aprovação de nova legislação que entrou em vigor este ano e exige mais equilíbrio de gênero na direção de empresas europeias.

Sanna Marin

Indicada pela vencedora de 2020, a primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin

“À medida que a Europa enfrenta uma crise após a outra, Usula von der Leyen tem revelado uma determinação incrível para ajudar a União Europeia a superar esses desafios em conjunto. Como líder, ela é incansável. São tempos difíceis, que a tornam ainda mais forte.”

Erika Liriano

Erika Liriano, República Dominicana

Empreendedora do cacau

Com o objetivo de tornar a produção e distribuição do cacau mais justa e sustentável na República Dominica, Erika Liriano criou com sua irmã, Janett, a INARU, uma start-up exportadora com participação dividida nos lucros. Este ano, a start-up conseguiu financiamento para começar suas atividades.

Historicamente, a indústria do cacau sempre foi uma fonte de renda para pequenos fazendeiros, mas a INARU garante um fornecimento ético e salários justos para os produtores dominicanos. Nascidas em Nova York, as irmãs pertencem a uma família de agricultores e empresários dominicanos, Elas agora mantêm parcerias com fazendas, cooperativas e fornecedores de todo o país administrados por mulheres.

O poder para determinar o próprio caminho deveria ser um direito de todos, e isso inclui o poder da mulher escolher que tipo de vida ela quer construir para si mesma.

Naomi Long

Naomi Long, Irlanda do Norte

Política

A ex-ministra da Justiça Naomi Long criou leis para atacar vários tipos de ofensas sexuais na Irlanda do Norte este ano, incluindo fotografar mulheres sob ângulos que as exponham sexualmente e abolindo a defesa do “sexo bruto”. Alvo de ameaças, Long também denuncia o assédio contra mulheres políticas para aumentar a conscientização da sociedade sobre este problema.

Engenheira civil de formação, Long entrou para a política em 1995, filiando-se ao Partido Aliança. Depois de servir como prefeita de Belfast, ela se tornou a primeira representante do Aliança eleita para o parlamento britânico, em 2010, tirando o ex-primeiro-ministro Peter Robinson da cadeira que ele ocupava havia mais de 30 anos.

Precisamos enfrentar os comportamentos que normalizam o abuso. Isso significa que todas nós precisamos questionar de forma direta e consistente a cultura do machismo, do sexismo e da misoginia.

Naja Lyberth

Naja Lyberth, Groenlândia

Psicóloga

A terapeuta especializada em trauma Naja Lyberth tinha apenas 13 anos quando foi submetida, involuntariamente, à colocação de um DIU (dispositivo intra-uterino), como parte de uma campanha de controle de natalidade realizada por médicos da Groenlância, junto aos inuítes, um povo nativo da região ártica. Dinamarca e Groenlândia concordaram em iniciar uma investigação oficial sobre a prática que vigorou nos anos 60 e 70, e que pode ter afetado cerca de 4,5 mil meninas e mulheres.

Lyberth faz campanhas para ajudar essas mulheres, incluindo aquelas que suspeitam ter problemas de fertilidade por causa do DIU. Ela criou um grupo no Facebook para que as vítimas se conectem e se ajudem.

Cada vez há mais mulheres que, por sobreviverem e superarem seus problemas, servem de inspiração para outras. Falar abertamente sempre ajuda a diminuir o medo, quando você descobre que não será julgada por isso. Não podemos permitir que nossos medos nos controlem.

Ayesha Malik

Ayesha Malik, Paquistão

Juíza

Nomeada este ano como a primeira juíza da Suprema Corte do Paquistão, a ministra Ayesha A. Malik é responsável por sentenças que protegem os direitos das mulheres. Entre elas está o memorável julgamento que proibiu o chamado ‘teste dos dois dedos’ em casos de estupro. Essa espécie de ‘atestado de virgindade’ fazia parte dos exames de vítimas de violência sexual, até ser banido em 2021.

Além de seu papel na Suprema Corte, Malik também oferece treinamento para juízes em todo o mundo e criou conferências para mulheres juízas no Paquistão, estimulando o debate sobre a inclusão da perspectiva de gênero na Justiça.

As mulheres precisam construir uma nova narrativa – uma que inlcua a perspectiva delas, que compartilhe experiências e inclua suas histórias.

Hadizatou Mani

Hadizatou Mani, Níger

Ativista anti-escravidão

Vendida para ser a “quinta esposa” aos 12 anos, Hadizatou Mani foi escravizada sob a prática wahaya que permite homens influentes tomarem uma esposa não oficial para servir às suas quatro esposas oficiais. Após ser libertada legalmente, em 2005, Mani casou novamente, mas seu ex-marido a processou, acusando-a de bigamia. Considerada culpada pela Justiça, Mani foi sentenciada a seis meses de prisão.

Mani levou o caso à Suprema Corte de Níger que, em 2019, derrubou sua condenação e proibiu a prática wahaya. Ela hoje é uma ativista que usa sua plataforma para ajudar outras meninas e mulheres a escaparem da escravidão.

Nigar Marf

Nigar Marf, Iraque

Enfermeira

Como enfermeira-chefe da principal unidade de queimados no Curdistão iraquiano, Nigar Mark tratou de mulheres que se auto-imolaram, ateando fogo a si mesmas. Essa prática é ainda muito comum entre as jovens da região como forma de protesto.

Marf trabalha em hospitais há cerca de 25 anos, tanto na unidade pediátrica de queimaduras como nas unidades intensivas. Sob seus cuidados, também passaram vítimas de queimaduras acidentais.

Oleksandra Matviichuk

Oleksandra Matviichuk, Ucrânia

Advogada de Direitos Humanos

Por 15 anos, Oleksandra Matviichuk dirigiu o Center for Civil Liberties (CCL), que em 2022 recebeu o Prêmio Nobel da Paz – compartilhado com outros ativistas – pelo trabalho de documentar os crimes de guerra russos cometidos depois da invasão da Ucrânia.

Em 2014, o CCL foi a primeira organização de direitos humanos a chegar na Crimea, em Luhansk, e Donetsk – territórios separatistas – para documentar os abusos. Agora o centro demanda que um tribunal internacional investigue a Rússia sobre supostas violações de direitos humanos cometidas na Chechênia, na Moldávia, na Geórgia, na Síria, no Mali e na Ucrânia.

Coragem não tem gênero.

Laura McAllister

Laura McAllister, País de Gales

Professora e ex-jogadora de futebol

Ex-capitã da equipe de futebol feminino do País de Gales, Laura McAllister tem ocupado cargos na mais alta hierarquia da governança esportiva. Hoje é vice-presidente do comitê de futebol feminino da UEFA (a Associação Europeia de Futebol) pela qual concorreu como representante ao conselho da FIFA (Federação Internacional de Futebol) em abril de 2021. Ela também é diretora da fundação galesa Football Association of Wales Trust.

Professora na Universidade de Cardiff, McAllister é uma especialista na política de Gales. Este ano, foi escolhida em seu país para ser embaixadora esportiva LGBT para participar da Copa no Catar. Quando entrava no estádio, teve de retirar seu chapéu de ‘arco-íris’ usado como apoio à comunidade LGBTQI+.

Milli

Milli, Tailândia

Rapper

A artista e compositora Danupha Kkhanatheerakul, mais conhecida como Milli, usa suas polêmicas letras para atacar questões como padrões de beleza irreais e consentimento sexual. Ela canta em várias línguas e dialetos, incorporando gírias da comunidade trans tailandesa. Recentemente, ela anunciou seu primeiro álbum, batizado BABB BUM BUM.

Sua performance durante o festival Coachella este ano se tornou um sucesso nas redes sociais por desafiar os estereótipos tailandeses e o governo, e por aparecer comendo arroz de manga no palco, uma tradicional sobremesa de seu país. No ano passado, ela enfrentou processos de difamação por ter criticado a resposta do governo à pandemia de covid-19. Resultado: a hashtag #saveMilli (salveMilli) viralizou.

Zara Mohammadi

Zara Mohammadi, Irã

Educadora

Como uma das fundadoras da Nojin Socio-Cultural Association, Zara Mohammadi, dedicou mais de dez anos ao ensino da língua curda em sua cidade natal, Sanandaj.

A Constituição iraniana permite o uso de línguas regionais e dialetos étinicos em contexto educacional, mas não é o que acontece na prática, segundo advogados e ativistas, o que impede as crianças de aprenderem a língua materna na escola. O governo iraniano acusou Mohammadi de “formar grupos e sociedades com o intuito de causar disrupção na segurança nacional”. Ela foi condenada a cinco anos de prisão e está presa desde janeiro deste ano.

Narges Mohammadi

Narges Mohammadi, Irã

Ativista dos direitos humanos

Indicada ao prêmio Nobel da Paz, a jornalista Narges Mohammadi é vice-presidente do Defenders of Human Rights Center (Centro dos Defensores dos Direitos Humanos) no Irã. Ela faz campanhas incessantes pela abolição da pena de morte em seu país. Durante as recentes manifestações, ela enviou uma carta da prisão onde está, Evin, pegindo à ONU que impeça o governo iraniano de condenar manifestantes à morte.

Em 2010, Mohammadi foi condenada a 11 anos de prisão, mas a condenação depois foi ampliada para 16 anos quando, sob fiança, ela fez um discurso criticando o tratamento dispensado aos detentos no presídio de Evin. Seu documentário White Torture examina o confinamento solitário, com base em entrevistas com 16 ex-prisioneiros. Seus dois filhos vivem no exílio com seu marido, o ativista político Taghi Rahmani.

Rita Moreno

Rita Moreno, Porto Rico/Estados Unidos

Atriz

Pouquíssimos artistas exibem o status de ser uma EGOT – sigla para o sucesso superlativo de ganhar um prêmio Emmy, um Grammy, um Oscar e um Tony – mas Rita Moreno é uma dessas. A atriz porto-riquenha, cantora e dançarina fez seu debut na Broadway aos 13 anos e mantém uma brilhante carreira ao longo de sete décadas.

Ela atuou em Cantando na Chuva e O Rei e Eu, mas foi sua Anita no filme original de West Side Story, que fez dela a primeira latina a ganhar um Oscar. Steven Spielberg criou um papel novo em seu aclamado remake do filme especialmente para Moreno atuar, já uma nonagenária.

Mia Mottley

Mia Mottley, Barbados

Primeira-ministra

Como primeira mulher no comando do governo de Barbados, Mia Motley foi reeleita em janeiro com uma vitória esmagadora nas urnas. Dirigente do Partido dos Trabalhadores de Barbados desde 2008, Motley esteve no comando do governo durante o processo de corte de laços com a monarquia britância, encerrando o papel da rainha como chefe de Estado e tornando a pequena nação caribenha a mais nova república do mundo.

Motley se tornou conhecida por ser muito franca sobre mudança climática. Durante a COP27, ela criticou as nações ricas por falharem no combate à crise climática, com o alerta de que poderá haver bilhões de refugiados climáticos no mundo até 2050 se nenhuma ação for tomada.

Salima Rhadia Mukansanga

Salima Rhadia Mukansanga, Ruanda

Juíza de futebol

Num momento histórico para o futebol internacional, Salima Rhadia Mukansanga foi escolhida pela Fifa como uma das três primeiras juízas mulheres a apitar partidas masculinas durante a Copa do Mundo. A estreia de mulheres nesse papel – inédita em 92 anos de história do campeonato mundial – é uma das novidades da Copa no Qatar.

Em janeiro último, Mukansanga se tornou a primeira juíza de futebol num jogo masculino durante a Copa Africana de Nações, e também apitou durante os Jogos Olímpicos de Tóquio. Conhecida por sua participação nas principais competições do futebol feminino mundial, Mukansanga foi parteira antes de desbravar o mundo do esporte.

Monica Musonda

Monica Musonda, Zâmbia

Empresária

Monica Musonda era uma advogada corporativa que decidiu empreender. Fundou e se tornou CEO da Java Foods, uma fabricante de alimentos e macarrão instantâneo no sul do continente africano, com a missão de produzir alimentos a um custo acessível aproveitando a forte produção de trigo em seu país, a demanda crescente por comida mais prática e mudanças no padrão de alimentação da sociedade.

Musonda, uma ativista da nutrição, também faz mentoria de outras empreendedoras e se pronuncia sobre problemas que afetam os negócios comandados por mulheres. Ela já ganhou vários prêmios e tem sido reconhecida por seu trabalho para fortalecer a agricultura e a produção de alimentos na África.

Ifeoma Ozoma

Ifeoma Ozoma, Estados Unidos

Especialista em políticas públicas e tecnologia

Depois de violar o acordo de confidencialidade com o Pinterest para acusar a empresa de discriminação racial e de gênero, Ifeoma Ozoma decidiu ajudar outras pessoas a lutarem contra maus-tratos no ambiente de trabalho. Ela se tornou co-patrocinadora da lei Silence No More (Chega de Silêncio), que permite todo trabalhador na Califórnia a compartilhar informações sobre discriminação e assédio a despeito de terem assinado acordos de confidencialidade com o empregador. Depois da denúncia de Ozoma, o Pinterest reviu suas políticas internas e afirmou apoiar a nova legislação.

Ozoma criou ainda o The Tech Worker Handbook (O Manual do Trabalhador Tecnológico), para orientar os trabalhadores sobre como denunciar abusos, enquanto orienta organizações da indústria tecnológica sobre equidade por meio da Earthseed, outra de suas iniciativas.

Yuliia Paievska

Yuliia Paievska, Ucrânia

Paramédica

A paramédica ucraniana Yuliia Paievska, mais conhecida como Taira, é fundadora da Taira’s Angels, uma unidade médica voluntária que salvou centenas de civis e militares feridos. Ela foi capturada pelas forças russas em março, enquanto ajudava a evacuar os civis da cidade de Mariupol, na Ucrânia.

Paievska vinha usando uma câmera escondida para documentar o trabalho de sua equipe na cidade sitiada, e entregando as imagens à imprensa. Ela foi mantida prisioneira por três meses. Depois de ser libertada, ela falou sobre as duras condições e o tratamento brutal que enfrentou enquanto esteve em cativeiro, descrevendo sua prisão como um “inferno”.

Tamana Zaryab Paryani

Tamana Zaryab Paryani, Afeganistão

Ativista

Dias depois de participarem de um comício pró-educação e trabalho, em janeiro, Tamana Zaryab Paryani e suas irmãs foram vistas sendo levadas à força de suas casas por homens armados. A comunidade internacional reagiu, fazendo apelos por sua libertação. O Talibã negou envolvimento com o assunto.

Paryani, no entanto, conseguiu filmar sua prisão. O vídeo foi parar nas redes sociais, viralizou e chamou a atenção sobre as ativistas que desaparecem no Afeganistão. Ela passou três semanas sob custódia antes de ser libertada e agora vive na Alemanha, e, em solidariedade com as mulheres do Afeganistão, queimou seu lenço de cabeça, uma atitude considerada controversa por muitas mulheres afegãs.

Enquanto as mulheres estão progredindo no mundo todo, as mulheres afegãs estão sendo empurradas 20 anos de volta ao passado. Vinte anos de conquistas estão sendo roubados delas.

Alice Pataxó

Alice Pataxó, Brasil

Ativista indígena

A ativista do clima, jornalista e influencer Alice Pataxó se dedica a aumentar a conscientização sobre como as políticas do atual governo Bolsonaro ameaçam as terras indígenas. Como a voz mais conhecida do povo Pataxó, ela questiona a visão colonial sobre as comunidades indígenas e denuncia assassinatos de ativistas ambientais no Brasil.

Ela é jornalista do Colabora e produtora de conteúdo no YouTube por meio do canal Nuhé, palavra que se refere à resiliência dos povos indígenas no Brasil.

Malala Yousafzai

Indicada pelo vencedor de 2021, a ativista da educação Malala Yousafzai.

“Tenho tanto orgulho em indicar a Alice Pataxó para o BBC 100 Women deste ano. O compromisso inabalável da Alice na luta que envolve mudanças climáticas, equidade de gênero e direitos indígenas me dá esperança de que um mundo mais igualitário e sustentável está ao nosso alcance.”

Roya Piraei

Roya Piraei, Irã

Ativista

Em setembro, uma imagem de Roya Piraei se tornou viral. Sua mãe, Minoo Majidi, de 62 anos, protestava em Kermanshah, a maior cidade curda no Irã, quando foi baleada e morta pelas forças de segurança. Durante o enterro de sua mãe, Piraei ficou em pé, ao lado do túmulo, com a cabeça raspada, enquanto segurava seu cabelo em uma das mãos e encarava desafiadoramente a câmera.

Os protestos contra o regime iraniano começaram na região curda do país logo após o assassinato de Mahsa Amini, a jovem curda de 22 anos morta sob custódia da polícia. Piraei desde então já se encontrou com o presidente francês, Emmanuel Macron, numa demonstração internacional de apoio às manifestações que seguem.

Alla Pugacheva

Alla Pugacheva, Rússia

Música

A artista e compositora Alla Pugacheva já vendeu mais de 250 milhões de discos. Com um repertório superior a 500 músicas e 100 álbuns, a “czarina do pop russo” e ícone cultural ficou conhecida por sua afinada voz de mezzo-soprano. Ela hoje está aposentada das apresentações no palco.

Várias vezes homenageada na Rússia por sua música, Pugacheva criticou o governo russo em inúmeras ocasiões. Em sua conta no Instagram, por exemplo, onde tem 3,6 milhões de seguidores, ela postou mensagem denunciando a guerra na Ucrânia, o que gerou reações de apoio e acusações de traidora.

O mundo tem assistido a um significativo progresso na luta pelo acesso das mulheres à educação e à independência financeira. No entanto, a violência doméstica ainda é um problema sério em muitos países.

Sepideh Qoliyan

Sepideh Qoliyan, Irã

Ativista política

A estudante de direito Sepideh Qoliyan foi condenada a cinco anos de prisão por apoiar os direitos dos trabalhadores na província de Khuzestan, no sudoeste iraniano. Ela passou os últimos quatro anos em quatro prisões do país, incluindo Evin, principal local de detenção de presos políticos, para onde foi levada em outubro de 2021.

Mesmo da prisão, ela continua sua militância, enviando gravações em fitas nas quais descreve o tratamento “desumano” que tem recebido. Ela também se tornou uma voz importante para mulheres presas e escreveu um livro sobre “a tortura” e “a injustiça” que as mulheres sofrem na prisão.

Elnaz Rekabi

Elnaz Rekabi, Irã

Escaladora

Durante o torneio asiático na Coreia do Sul, em outubro, a alpinista iraniana Elnaz Rekabi competiu sem usar o lenço cobrindo o cabelo, em meio a protestos que aconteciam em seu país contra o uso obrigatório do acessório, exigido pelo governo. Ela ficou em quarto no campeonato, mas ganhou popularidade entre as manifestantes iranianas e nas redes sociais, onde foi amplamente elogiada. Muitas pessoas foram recebê-la em festa no aeroporto de Teerã quando ela retornou.

Depois, um post em seu Instagram informava que o hijab caiu “acidentalmente”. Ela pediu desculpas ao povo iraninano durante uma entrevista numa TV estatal por toda a “confusão e preocupação” que causou. No entanto, uma fonte disse à BBC Persa que aquela entrevista havia sido uma confissão forçada.

Jane Rigby

Jane Rigby, Estados Unidos

Astrônoma e astrofísica

Jane Rigby se destacou como uma das cientistas-chave na equipe internacional responsável pelo projeto e pelo lançamento do James Webb, o maior telescópio espacial já colocado em órbita. Em julho, as primeiras fotografias totalmente coloridas tiradas pelo Webb se tornaram a mais detalhada visão infra-vermelha já disponível do universo. Ela trabalha na NASA, a agência espacial americana, e se dedica ao estudo de como as galáxias evoluem ao longo do tempo cósmico.

Várias vezes premiada por suas pesquisas, Rigby publicou mais de 100 trabalhos científicos revisados por pares. Ela também é uma defensora de mais equidade e inclusão na Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.

Quando eu era estudante, eu não sabia da existência de nenhum modelo LGBTQ e espero que eu seja parte da última geração que cresceu sem referências queer para seguir.

Yulimar Rojas

Yulimar Rojas, Venezuela

Atleta

A medalhista olímpica (ouro e prata) e tricampeã mundial se tornou a recordista do salto triplo quando atingiu a marca de 15,74 metros no Mundial de Atletismo, em março. Agora, ela tem metas ainda mais audaciosas: saltar 16 metros.

Nascida em Caracas, Venezuela, e criada numa região pobre da costa caribenha, Rojas atribui o segredo de seu sucesso à sua origem humilde. Integrante do time atlético do Barcelona, Rojas atualmente tem status de heroína em seu país. Ela é assumidamente lésbica e se tornou uma voz importante sobre temas LBGTQ+.

Nós mulheres não podemos nos deixar intimidar. Nada é impossível para nós. Já está claro que somos subestimadas mas nós já provamos com muito orgulho que somos capazes.

Yuliia Sachuk

Yuliia Sachuk, Ucrânia

Liderança no campo da deficiência

A ucraniana Yuliia Sachuk lidera a Fight for Right, uma organização de mulheres com deficiências. Ela lançou uma resposta emergencial à invasão de seu país pela Rússia, trabalhando dia e noite para coordenar planos de evacuação com a ajuda de organizações internacionais a fim de salvar milhares de ucranianos com deficiência.

Uma de suas missões é ajudar mulheres e meninas com deficiência a se sentirem capazes de participar de tomadas de decisão. Sachuk foi premiada com a National Human Rights Award 2020, é candidata pela Ucrânia à Comissão das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e participa do programa Leader Europe da Fundação Obama.

Ainura Sagyn

Ainura Sagyn, Quirguistão

Engenheira

Engenheira de computação e ecofeminista, Ainura Sagyn usa suas habilidades para oferecer soluções tecnológicas a problemas ambientais. Para reduzir o desperdício de materiais, ela criou o Tazar, um aplicativo que conecta lares, restaurantes, fábricas e praças de obras, todo lugar que produz lixo e resíduos, com a indústria da reciclagem. O aplicativo visa limitar os resíduos que vão parar em aterros sanitários criando uma cultura de mais sustentabilidade nos países da Ásia Central.

Ela tem organizado oficinas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática pelas quais já passaram mais de 2 mil meninas em várias regiões do Quirguistão.

Sem a liderança e participação das mulheres na resposta à crise climática, é improvável que sejam adotadas soluções para um planeta mais sustentável e um futuro mais equitativo entre os gêneros.

Roza Salih

Roza Salih, Escócia

Política e médica voluntária

Ela chegou à Escócia ainda menina quando a família foi obrigada a fugir do Iraque. Em maio deste ano, Roza Salih se tornou a primeira refugiada a ser eleita conselheira de uma região administrativa da prefeitura de Glasgow. Salih tem se destacado como líder desde a adolescência. Quando ainda estava na escola, organizou com outras adolescentes um protesto contra a prisão de um amigo. A campanha – batizada de Meninas de Glasgow – ganhou repercussão nacional por chamar atenção para a maneira como os refugiados são tratados.

Salih foi adiante em sua campanha pelos direitos dos refugiados ajudando a criar a Scottish Solidarity with Kurdistan (Solidariedade Escocesa para o Curdistão), pela qual tem viajado para regiões curdas da Turquia como uma ativista de direitos humanos.

Sally Scales

Sally Scales, Austrália

Artista

Este ano, a consultora de arte Sally Scales foi nomeada para o grupo que trabalha com o governo australiano no referendo conhecido como “Voz para o Parlamento”, uma consulta histórica que, se bem sucedida, vai garantir a representação permanente dos povos aborígenes nos processos parlamentares.

Artista e respeitada liderança cultural, Scales é uma mulher pitjantjatjara, um dos povos aborígenes que ocupam terras remotas no sul da Austrália. Ela é o rosto da nova geração de lideranças indígenas, a segunda mulher a chefiar a comunidade dos APY (Anangu Pitjantjatjara Yankunytjatjara) e porta-voz do Centro de Arte Coletiva da APY, que reúne empreendedores culturais de origem indígena.

Julia Gillard

Indicada pela ex-política Julia Gillard, vencedora de 2018

“Sally é criadora tanto de uma arte maravilhosa como de entendimento humano. Iluminando e estimulando outros, ela consegue catalisar mudanças necessárias para acabar com essa perversa combinação de racismo e sexismo.”

Nana Darkoa Sekyiamah

Nana Darkoa Sekyiamah, Gana

Escritora

Seu livro The Sex Lives of African Women é descrito como “um relato surpreendente sobre a busca de liberdade sexual”, numa resenha elogiosa da Publishers Weekly, e como um dos melhores livros do ano, pela Economist. A obra revela a diversidade de vozes dentro do continente africano e fora, na diáspora global.

Escritora e feminista, ela também ajudou a fundar a Adventures from the Bedrooms of African Women – um site, podcast e festival que gera conteúdo para recontar as experiências das mulheres africanas com sexo, sexualidade e prazer.

As feministas têm sido bem sucedidas em criar espaço para todas as mulheres serem elas mesmas. Mas agora estamos enfrentando uma reação ao nosso avanço, e essa reação afeta particularmente a diversidade de gênero e pessoas com gênero indefinido.

Suvada Selimović

Suvada Selimović, Bósnia-Herzegovina

Pacifista

Já se passaram 30 anos desde que a guerra devastou a Bósnia-Herzegovina, Suvada Selimović continua trabalhando pela paz. Viúva e mãe de crianças pequenas, ela mora numa cidade que ajudou a reconstruir com outras mulheres deslocadas de seus lares e onde criou a Anima, uma organização focada no fortalecimento da paz e no empoderamento feminino.

Depois que os restos mortais de seu marido foram encontrados numa cova coletiva em 2008, ela testemunhou na corte de crimes de guerra e encorajou outras mulheres a fazerem o mesmo. Hoje, a Anima organiza oficinas e cria oportunidades para essas mulheres venderem os produtos que criam.

Geetanjali Shree

Geetanjali Shree, Índia

Escritora

A romancista Geetanjali Shree entrou para a história este ano como a primeira escritora hindi a ganhar o prestigiado prêmio internacional de literatura Booker Prize com seu Tomb of the Sand, a tradução inglesa de seu romance Ret Samadhi. A tradução francesa do livro também foi finalista do Emile Guimet Prize.

Shree escreve ficção em hindi (língua mais falada no Norte da Índia) e não-ficção em hindi e inglês. Seu trabalho, diferenciado pelo uso inovador de linguagem e estrutura, já foi traduzido em outras línguas faladas na Índia e no estrangeiro. Shree também trabalha com roteiros para o teatro em colaboração com o grupo teatral Vivalvi, que ajudou a fundar.

As mulheres sempre precisaram negociar seu espaço, mas estamos avançando em várias esferas da vida, ainda que desigualmente entre culturas e classes.

Monica Simpson

Monica Simpson, Estados Unidos

Ativista da Justiça Reprodutiva

Como diretora executiva da SisterSong, um coletivo de mulheres negras que militam pela justiça reprodutiva em Estados do sul dos Estados Unidos, Monica Simpson foca na luta pela liberdade sexual e reprodutiva. Essa é uma questão que voltou aos holofotes este ano depois que a Suprema Corte americana derrubou o entendimento de que aborto era um direto constitucional em todo o país.

Simpson é também cantora e artista da palavra falada, integrando seu ativismo com arte. Ela é uma doula certificada e integra o conselho fundador da Black Mamas Matter Alliance, voltada para a promoção da saúde materna negra.

Alexandra Skochilenko

Alexandra Skochilenko, Rússia

Artista

Ela foi presa por substituir etiquetas de preço por mensagens sobre a guerra na Ucrânia, incluindo dados sobre potencial número de mortos no ataque aéreo ao teatro de Mariupol. Denunciada por um cliente do supermercado, em São Petesburgo, onde protestava, ela foi enquadrada na lei que proíbe “desinformação” sobre as forças armadas russas.

Alexandra Skochilenko está detida desde abril, aguardando julgamento. Se condenada, ela poderá pegar até dez anos de prisão. A Anistia Internacional faz uma campanha por sua libertação.

Bem conhecida na comunidade artística, Skochilenko é compositora, cartunista e autora de livros de quadrinhos com foco em saúde mental. Seus advogados têm relatado que o estado de saúde dela na prisão é preocupante.

Simone Tebet

Simone Tebet, Brasil

Senadora

Vista por muitos como uma figura central para amenizar a profunda polarização que afeta o país, Simone Tebet terminou em terceiro lugar na corrida presidencial. Ela foi eleita para deputada estadual em 2002 e prefeita de sua cidade natal, Três Lagoas (MS), por dois mantados consecutivos, em 2004 e 2008. Em 2014, chegou ao Senado Federal com mais de 52% dos votos válidos em seu Estado.

Tebet foi a primeira mulher a presidir a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, considerada a mais importante da casa. Professora de Direito por mais de uma década, Tebet também foi presidente da Comissão Permanente Mista de Combate à Violência Contra a Mulher.

Todo mundo precisa saber que o futuro é feminino, e que o lugar de uma mulher é onde ela quiser estar.

Kisanet Tedros

Kisanet Tedros, Eritreia

Empreendedora educacional

Kisanet Tedros criou no YouTube o canal Beles Bubu, que ensina a língua e a cultura nacional às crianças de seu país e já conta com mais de 32 mil assinantes. Nascida e criada na Etiópia, Tedros compreende desde muito jovem a importância de conhecer a língua para se manter conectada às suas origens.

O conteúdo do canal, como desenhos e músicas infantis, é produzido por artistas auto-didatas e digitais da Eritreia, de Uganda e da República Democrática do Congo. Os vídeos são vistos por famílias que falam tigrínia, tanto da Eritreia como da Etiópia. Tedros também organizou o primeiro Festival Infantil Beles Bubu para refugiados em Kampala, Uganda.

Efrat Tilma

Efrat Tilma, Israel

Voluntária

Primeira voluntária transgênero na polícia de Israel, a ativista Efrat Tilma atende chamadas de emergência e trabalha para melhorar o relacionamento entre as forças policiais e a comunidade LGBTQ+. Ela fugiu de Israel ainda adolescente depois de ser rejeitada pela família e sofrer assédio policial. Ela se submeteu à cirurgia para troca de sexo em 1969 em Casablanca, Marrocos, quando o procedimento ainda era proibido na maior parte da Europa.

Ela começou uma carreira como aeromoça e casou. Retornou para Israel em 2005, depois de se divorciar, e encontrou um lugar mais receptivo para minorias, o que a encorajou a entrar na polícia.

Maryna Viazovska

Maryna Viazovska, Ucrânia

Matemåtica

No início do ano, a matemática ucraniana Maryna Viazovska se tornou a segunda mulher na história a ganhar a prestigiosa Medalha Fields, também conhecida como o Prêmio Nobel da Matemática, concedida a cada quatro anos. Ela foi reconhecida por solucionar um enigma de mais de 400 anos: como acomodar esferas da maneira mais eficiente num espaço de oito dimensões.

Baseada no Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Lausanne (EPFL), Maryna Viazovska é professora e titular da Teoria dos Números no Instituto de Matemática.

Velia Vidal

Velia Vidal, Colômbia

Escritora

Contadora de histórias e promotora cultural da região de El Chocó, a região mais carente da Colômbia, Vella Vidal é apaixonada pela leitura compartilhada. Ela fundou o Motete, uma organização que promove a leitura, a alfabetização e a cultura única de Chocó. Ela também organiza o festival de leitura e escrita de Chocó, usando a literatura como ferramenta de combate ao racismo e à desigualdade em uma das regiões mais carentes da Colômbia.

Seu mais recente livro, Aguas de Estuario, foi o primeiro vencedor de um prêmio voltado para autores afro-colombianos, oferecido pelo Ministério da Cultura da Colômbia. Vella Vidal também é pesquisadora do projeto Afluentes, uma iniciativa conjunta com o British Museum.

Hoje temos mais consciência da opressão histórica sofrida pelas mulheres e da necessidade de remediá-la, mas falhamos ao não reconhecer o quanto o racismo aprofunda essas opressões para pessoas de origem indígena e africana.

Esraa Warda

Esraa Warda, Argélia/Estados Unidos

Dançarina

Filha da diáspora argelina, Esraa Warda é uma guerreira cultural que transportou danças tradicionais da Argélia da sala de estar para a sala de aula. Ela milita pela preservação de danças tradicionais lideradas por mulheres norte-africanas com ênfase no rai, um gênero historicamente associado a protesto social.

Ela é aprendiz de Cheikha Rabia, uma das poucas mulheres na diáspora mestras no rai tradicional. Warda é uma artista e educadora itinerante. Suas performances e oficinas têm dado a volta ao mundo, de Washington a Londres.

Zhou Xiaoxuan

Zhou Xiaoxuan, China

Ativista feminista

Ela é o rosto do movimento #MeToo na China. Seu caso foi seguido por feministas dentro e fora de seu país. Em 2018, Zhou Xiaoxuan processou Zhu Jun, um famoso apresentador do canal estatal CCTV, acusando-o de apalpá-la e de tentar beijá-la a força durante um estágio em 2014. Ele negou as acusações e a processou por difamação.

O processo por assédio foi arquivado por insuficiência de provas e este ano seu recurso foi rejeitado, num lance que a imprensa estrangeira chamou de golpe no MeToo na China. Zhou Xiaoxuan agora ajuda mulheres vítimas de assédio sexual e se engajou com a luta feminista na China.

Cheng Yen

Cheng Yen, Taiwan

Filantropa budista

A mestra Dharma Cheng Yen é considerada uma das figuras mais influentes no desenvolvimento do moderno budismo taiwanês. Fundadora da organização humanitária Tzu Chi Foundation, também é chamada de “a madre Teresa da Ásia”.

Ela criou a organização em 1966 com apenas a poupança de 30 donas de casa dispostas a ajudar famílias necessitadas. Desde então, conquistou milhões de seguidores globalmente, oferecendo auxílio internacional e gerenciando escolas e hospitais. A monja já passou dos 80 anos, mas seus apoiadores continuam promovendo campanhas filantrópicas, tendo recentemente providenciado ajuda financeira e material para refugiados da Ucrânia.

Nazanin Zaghari-Ratcliffe

Nazanin Zaghari-Ratcliffe, Reino Unido/Irã

Trabalhadora beneficente

“O mundo deveria se unir para que ninguém esteja refém ou preso por algo que não fez” foram as palavras de Nazanin Zaghari-Ratcliffe, cidadã britânica e iraniana, depois de ser libertada pelas autoridades iranianas em março, após uma longa campanha de seu marido Richard pressionando o governo britânico para garantir sua libertação e resolver uma disputa histórica de dívida com o Irã.

Nazanin foi detida de forma arbitrária no Irã enquanto passava férias com sua filha, em 2016, e subsequentemente mantida como refém diplomática das autoridades iranianas para pressionar o governo britânico. Ela ficou presa por seis anos – inicialmente condenada pela Corte Revolucionária por tentar derrubar o regime iraniano. Quando a sentença expirou em 2021, ela recebeu uma nova sentença, e ficou detida no Irã até que um acordo diplomático fosse alcançado. Nazanin Zaghari-Ratcliffe sempre negou veementemente todas as acusações. Ela agora escreve um livro de memórias com seu marido.

Olena Zelenska

Olena Zelenska, Ucrânia

Primeira dama da Ucrânia

Bem sucedida roteirista de TV acostumada a trabalhar nos bastidores, Olena Zelenska foi empurrada para o palco mundial quando seu marido, Volodymyr Zelensky, foi eleito presidente da Ucrânia, em 2019. Como primeira dama, ela tem trabalhado para fortalecer os direitos das mulheres e promover a cultura ucraniana.

Depois da invasão russa, Zelenska usou sua plataforma para chamar atenção para o sofrimento do povo ucraniano, o que fez dela a primeira mulher de um presidente estrangeiro a se dirigir diretamente ao Congresso americano. Hoje, trabalha para levar cuidados de saúde mental a crianças e famílias traumatizadas pela guerra.

Mulheres estão assumindo ainda mais responsabilidades do que nos tempos de paz…Uma mulher que passou por esta guerra nunca mais dará um passo atrás. E eu tenho certeza de que nossa confiança interior irá aumentar.

Yana Zinkevych

Yana Zinkevych, Ucrânia

Política e médica voluntária

Ela se tornou médica voluntária assim que terminou os estudos, criando a Hospitallers, em 2014, quando começaram as hostilidades com a Rússia, A Hospitallers é uma organização paramédica voluntária que atua na linha de frente nos territórios conflagrados e que Zinkevych dirige até hoje. Desde então, ela trabalha para salvar vidas e evacuar as pessoas do campo de batalha.

Ela pessoalmente já removeu 200 soldados feridos para locais mais seguros. Sua equipe continua prestando primeiros socorros para soldados e civis machucados, treinamento para profissionais da área de saúde, tendo retirado mais de 6 mil pessoas de zonas de conflito. Aos 27 anos, Zinkevych é uma das mais jovens integrantes do parlamento ucraniano e chefe do subcomitê de medicina militar.

Fonte: BBC