A artista e educadora social Yan Scherer, de 30 anos, será a primeira rainha de bateria transgênero no Carnaval de Rua de Caxias do Sul, maior cidade do interior gaúcho. Ela desfilará pela Associação Cultural Esportiva São Vicente, agremiação com sede no bairro Jardelino Ramos que levará à avenida o enredo “O quilombo que nunca se calou”, em homenagem ao continente africano. O desfile será na noite de 8 de março, a partir das 20h.
Natural de Tapera/RS, Yan Scherer mora em Caxias do Sul desde 2014. A paixão pelo carnaval começou ainda na infância, mesmo proibida. De família evangélica, Yan conta que não podia assistir aos desfiles das escolas de samba pela televisão. Quando os pais dormiam, aproveitava para ligar a TV, sem volume, para se encantar com o espetáculo de cores.
“Eu esperava todos dormirem para ligar a TV, via a Globeleza e tentava imitar. Mesmo que na época eu mesma achasse que era um menino, era ela, a Globeleza, que eu queria ser. O tempo passou e, hoje, ser a primeira mulher trans rainha de bateria no Carnaval de Caxias do Sul me aquece o coração e também me assusta. Ocupar esse espaço é um ato de protesto: vivendo no país que mais nos mata, eu vou ser rainha! Que eu seja a primeira, mas não a última, abrindo as portas para todas as que estão vindo”, comenta Yan, que utilizará no desfile uma fantasia em homenagem à Iansã, orixá guerreira associada aos ventos e às tempestades.
A escolha da educadora social para o posto de rainha de bateria se deu por meio de uma parceria da Associação Cultural Esportiva São Vicente com a ONG Construindo Igualdade, entidade com mais de 20 anos de atuação em prol da comunidade LGBTQIA+ de Caxias do Sul. Além da presença de Yan, a ONG promete colorir o desfile com as cores do arco-íris: uma das alas no desfile da São Vicente será formada exclusivamente por pessoas LGBTs. Durante o mês de fevereiro, a entidade também fará encontros sobre diversidade com os integrantes da escola de samba.
Sobre a ONG
A ONG Construindo Igualdade é uma entidade sem fins lucrativos de Caxias do Sul (RS) que iniciou suas atividades em 2003, a partir da necessidade de organização da comunidade LGBTQIA+. Dirigida por uma comissão de pessoas LGBTs, tem como missão combater qualquer tipo de discriminação e violação de direitos humanos em função da orientação sexual ou identidade de gênero, atuando para garantir o direito à cidadania plena e à livre expressão. Possui um histórico de atuação com pessoas em situação de vulnerabilidade, mulheres vítimas de violência doméstica e pessoas convivendo com HIV e AIDS, por meio de ações de assistência social, saúde, advocacia, educação, cultura e acolhimento.