A história dos imigrantes italianos na Região Uva e Vinho da Serra Gaúcha começa por volta de 1875, com a chegada das primeiras famílias, estabelecendo-se na então Colônia Dona Isabel. Eles trouxeram consigo não apenas suas esperanças e sonhos, como também uma rica cultura e idioma próprio. Esses imigrantes, provenientes de diversas regiões da Itália, falavam dialetos distintos, que, ao se encontrarem com o Português falado no Brasil, deram origem a uma nova língua: o Talian.
Os imigrantes italianos eram legítimos representantes da cultura camponesa, que valorizavam a religiosidade, o trabalho e a família. Ações de resgate realizadas pela Associação Caminhos de Pedra permitem aos visitantes e a própria comunidade, vivenciar toda essa tradição e herança cultural.
Talian: Do quase esquecimento ao reconhecimento e orgulho de um povo
Em 1924, Aquiles Bernardi contribuiu significativamente para a literatura Talian com a obra “Nanetto Pipetta”, marcando um importante passo para a preservação deste idioma. A oficialização da grafia só ocorreria em 1989, graças aos esforços de Rovílio Costa, Lazzarotto, Luzzatto, Posenato, Tonial e Mussolini, que lutaram pelo reconhecimento da língua.
Um marco histórico será alcançado em novembro de 2024, quando completará dez anos desde o reconhecimento oficial do Talian pelo Ministério da Cultura e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Esse reconhecimento trouxe consigo uma série de políticas públicas e projetos dedicados à salvaguarda da língua.
Com o intuito de resgatar e preservar esse valioso patrimônio linguístico, foi iniciada, no dia 6 de abril, uma oficina de Talian na Casa da Memória Merlin, localizada no Roteiro Caminhos de Pedra, voltada para alunos iniciantes. As aulas acontecem aos sábados à tarde, sob a orientação da professora Mirna Madalosso e com o apoio da Associação Caminhos de Pedra, presidida por Alice Menoncin.
Mirna expressa seu orgulho em participar deste movimento de resgate: “É um orgulho fazer parte do resgate da nossa língua mãe, o Talian, que por muito tempo nossos nonos foram proibidos de falar. Os mesmos passaram a ter vergonha de falar pois eram ridicularizados. O Talian passou a ser a língua afetiva com nossos nonos e nossa história. Um povo empobrece quando lhes é tirada sua língua, recebida de herança de seus genitores. Não devemos ter vergonha de falar, mas sim, orgulho. Ela é nosso legado.”
Um dos pilares da Associação Caminhos de Pedra continua sendo promover ativamente o ensino do Talian, incentivando mais pessoas a aprenderem e a usarem a língua, garantindo assim a continuidade desta rica herança cultural.
A Presidente da Associação Caminhos de Pedra, Alice Menoncin, comenta que a entidade pensa sempre na preservação da cultura e da história da imigração italiana, e as aulas de Talian são fundamentais para a preservação do dialeto. “Como disse o escritor Darcy Loss Luzzatto, a língua Talian é o alicerce da Cultura. Por isso a Associação Caminhos de Pedra está sempre incentivando os cursos para que cada vez mais pessoas tenham este conhecimento e possam conversar Talian.”
Coro Caminhos de Pedra retorna às atividades
Fundado em 21 de abril de 2004, o Coro Caminhos de Pedra desenvolveu intensas atividades até o ano de 2020, quando devido à pandemia da COVID não mais se apresentou. Com nova formação, o Grupo Artístico retorna plenamente às atividades com ensaios semanais às segundas-feiras, às vinte horas, na Casa da Memória Merlin.
São propostas do coral resgatar canções trazidas pelos imigrantes que contam a história com alegres melodias e expressão poética. A dramaticidade da viagem, a fé e coragem, a temática do amor nas mais variadas dimensões, canções de nostalgia… Sem esquecer as mais variadas melodias que encantam visitantes e plateias.
Melodias compostas por autores ítalo-gaúchos também farão parte do repertório. Atendendo às solicitações consensuais de seus integrantes, o Coro Caminhos de Pedra poderá ensaiar também um repertório sacro para eventos especiais.
Novos integrantes serão bem-vindos, basta comparecer nos dias de ensaio e submeterem-se a uma breve avaliação dos maestros responsáveis. Lideram os ensaios, o maestro e escritor Geraldo Farina e sua filha, a cantora, bacharela em turismo e licencianda em música, Camila Farina.
Caminhos de Pedra, o ‘museu vivo’
Pioneiro no seu segmento na época de sua criação, o Roteiro Caminhos de Pedra foi e continua a ser referência nacional, tendo sido tema de muitos estudos e teses nas áreas de turismo cultural e rural, arquitetura, patrimônio histórico, empreendedorismo, e administração, entre outros.
A história de um povo contada em forma de arquitetura, paisagens e costumes, também rendeu ao Roteiro o título de Patrimônio Histórico do Rio Grande do Sul desde 2009 (Lei Estadual 13.177/09). Por concentrar o maior acervo arquitetônico da imigração italiana em meio rural do país e pela preocupação com a preservação do patrimônio histórico material e imaterial, rendeu aos Caminhos de Pedra o qualificativo de ‘museu vivo’.