No terceiro episódio da série Desafio e Preconceito, o Portal Leouve traz o cotidiano do jovem Brunno Panasso, de 27 anos, natural de Porto Alegre, mas radicado em Caxias do Sul, que vai contar um pouco de sua rotina, desafios e preconceitos. Ele nasceu com um tumor na coluna vertebral que atingiu a medula, fazendo com que Brunno perdesse o movimento dos membros inferiores.

O tumor de Brunno foi descoberto com seis meses de idade. O tratamento para eliminar o abscesso foi realizado com sucesso e em dois anos já havia sido curado. Porém, os movimentos dos membros inferiores do menino se perderam. Desde então, Brunno necessita de uma cadeira de rodas para sua locomoção. Ele conta que em casa sempre recebeu o carinho da família e as devidas adaptações, mas foi avisado que a convivência na sociedade não seria fácil.

Os tratamentos continuam até hoje com intuito de buscar um melhor bem-estar. “A gente (Brunno e família) nunca fala em reabilitação, até porque é uma coisa muito complicada, mas sempre busco uma melhor qualidade de vida fazendo fisioterapia e reforço muscular.”

O fato se locomover utilizando uma cadeira de rodas mostrou algumas das facetas do mundo para Brunno, algumas positivas, outras negativas. “A sociedade tem um discurso de inclusão pronto. Só que na verdade, a sociedade em si, não é inclusiva. É muito difícil eu ir a um local e ser totalmente acessível. Como gosto de sair com meus amigos, sempre que vamos em alguma casa noturna, preciso da ajuda deles ou até do pessoal que trabalha na casa. E isso é em todo lugar, não só em Caxias do Sul”, afirma.

Na questão profissional, ele também explica que existem muitas dificuldades, principalmente para a pessoa que está em uma cadeira de rodas. “As empresas usam de estruturas que foram construídas há muito tempo, o que dificulta a adaptação e, por não querer gastar para reformas, acabam deixando do jeito que está. Eu já passei por um período de quatro anos desempregado, não por falta de qualificação, mas, sim, por falta de acessibilidade para receber uma pessoa com deficiência”, lamenta.

Assim como existem pessoas que subestimam um portador de deficiência, também existem aqueles que realmente fazem a diferença para momentos inesquecíveis. Brunno conta algumas situações que até hoje o marcam, “uma vez fui ao um show do Forfun (banda de rock), em Porto Alegre, quando entrei no local do show, o lugar estava lotado. Ai aconteceu algo que eu nunca imaginaria, as pessoas me levantaram com a cadeira e foram me levando, de mão em mão, até a frente do palco. Não conhecia nenhuma daquelas pessoas, mas eles se importaram comigo.”

Mas, as vezes, quem quer ajudar acaba sendo inconveniente. “Se eu sair de casa para ir a alguma festa, pode ter certeza que alguém vai vir me falar, ‘que bom que tu está aqui, se superando para poder se divertir’. Eu não estou me superando, estou apenas me divertindo como todos. Também tenho o direito. Não é porque eu preciso de uma cadeira de rodas que tudo que eu faço é superação. Estou apenas vivendo a minha vida. Este tipo de atitude me incomoda muito, porque são coisas corriqueiras da vida de todos, mas quando eu faço todos pensam que é um grande esforço”, exalta.

Outra situação que Brunno conta como chata é “quando as pessoas querem me ajudar, empurrando a cadeira, por exemplo. Se eu precisar de ajuda, vou pedir, o cadeirante não gosta e não quer que alguém o saia empurrando. Todos os dias me deparo com situações onde as pessoas não sabem lidar com a minha deficiência, me olham com olhar de pena, me tratam diferente. A gente (pessoas com deficiência) tem que lidar com diversas coisas que incomodam no dia a dia.”

Hoje, com mais consciência de como é o mundo, Brunno conta que sociedade apresenta uma pequena evolução, “quando era pequeno sofria muito bullyng na escola por ser cadeirante. Fui crescendo e aprendendo a viver, mas hoje percebo uma pequena evolução, principalmente nas universidades/faculdades. Foi quando entrei na universidade que tive contato com outras pessoas com deficiência. Hoje sou mais seletivo, avalio as pessoas que vão ficar ao meu redor. Isso aconteceu na transição da escola para a vida real (faculdade, trabalho), acho que posso dizer que amadureci.”

Atualmente, Brunno mora com sua mãe, tem seu próprio carro e consegue realizar as atividades cotidianas, mas ele sabe que nem todos tem essas oportunidades. Então, salienta que todos precisam de tolerância, informações e muito bom-senso para poder lidar com a dificuldades de todos. “Eu tenho vários amigos que são de minorias e eu considero meu caso como o menos grave deles, existem coisas e situações muito mais graves que a minha, que demandam mais tolerância.”

Fonte: Leouve / Foto: Arquivo pessoal / Brunno Panosso