Olá, amigos! Agora que o ano de 2019 está terminando, as coroas de Natal estão penduradas na porta de casa e os presépios estão montados na sala, eu gostaria de dizer algumas palavras sobre essa época deveras emocionante. Além de ser um evento alegre para uns e melancólico para outros, os festejos pelo nascimento de Jesus podem acontecer no frio ou no calor. De qualquer maneira, nessa hora acabamos vítimas da influência de certas lendas e tradições de outros países, idealizando um Papai-Noel que usa cachecol e pilota um trenó puxado por renas, mesmo que o mês de dezembro seja um dos mais quentes em nosso país tropical.
A neve. Haverá espetáculo de maior beleza para os olhos? Enquanto o fogo crepita na lareira rodeada de presentes, a brancura da neve cobre os verdes pinheiros de Natal, os campos, os jardins e a cidade, como uma auréola caprichosamente tecida pela Natureza. E, no entanto, quanto mistério ela representa para nós, habitantes do sul do planeta, onde o sol derrete o gelo na maior parte do ano!
Permitam-me, pois, levantar o manto de olvido que cobre um dos grandes personagens forjados pela neve e pelo esporte. Foi com esquis sob os pés e uma paisagem gelada ao fundo que Zeno Colò descobriu a felicidade. Nascido na Toscana, Zeno alcançou a condição de ídolo, acumulando medalhas e prestígio com suas descidas e ziguezagues através das montanhas alpinas.
Em 1947, enquanto Zeno quebrava o recorde mundial de velocidade na descida livre, atingindo a incrível marca de 152 km/h, outro fato inusitado chamou a atenção da crônica esportiva do seu país. Ao ceder dez jogadores para defender a “squadra azzurra”, o Torino alcançava uma marca ímpar.
O “Grande Torino”, como ficou plasmada na história aquela formidável equipe, vinha conquistando “scudettos” em série, dominando o campeonato italiano de futebol graças à têmpera do craque Valentino Mazzola e seus asseclas. Além de Mazzola, em maio de 1947 vestiram a camisa azul da seleção italiana os zagueiros Maroso e Ballarin; os meias Grezar, Rigamonti e Castigliano; e os atacantes Menti, Loik, Gabetto e Ferraris II.
O jogo foi na cidade de Turim, contra a sempre perigosa seleção da Hungria. Segundo os historiadores Franco Ossola e Renato Tavella, a vitória da seleção italiana por 3 a 2 foi emblemática. Isso porque o Torino desfilou o seu futebol jogando em seu estádio, diante do seu torcedor. O fato de que Mazzola e companhia estivessem vestindo a camisa “azurra” no lugar da “granata” foi uma espécie de cereja no bolo, o coroamento da epopeia de um dos maiores esquadrões formados na Europa em todos os tempos. Um dos gols da Hungria foi marcado pelo jovem Ferenc Puskas, que mais tarde seria o timoneiro da seleção magiar que assombrou o mundo na Copa da Alemanha, em 1954.
Quanto aos alemães, trata-se de um povo entusiasta dos esportes de inverno. Desde cedo, as crianças aprendem a difícil arte de equilibrar o corpo sobre os esquis e a neve, exercitando o corpo e a mente em comunhão com a natureza. Bastian Schweinsteiger, quando era apenas um garotinho, mostrou habilidade com os esquis. Mas o seu futuro repousava nos gramados, correndo atrás de uma bola, até se tornar um ídolo no Bayern de Munique e na seleção alemã.
Adepto do esqui em suas horas de lazer, Michael Schumacher foi praticamente imbatível nas pistas velozes da Fórmula 1. Campeão nos anos de 1994, 1995, 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004, em sua carreira Schumacher evitou perigos e curvas sinuosas, pilotando sua máquina com destreza e sangue frio. Curiosamente, uma fatalidade vitimou Schumacher quando ele, já aposentado das pistas, sofreu uma terrível queda enquanto esquiava despreocupadamente nos alpes franceses.
Além do esqui e do automobilismo, Schumacher nutria sincera admiração pelo futebol. Ele provavelmente ficaria surpreso em saber que, em maio de 1979, um fenômeno meteorológico tão belo quanto raro ocorreu durante uma partida do campeonato gaúcho.
Em Bento Gonçalves, o Esportivo recebeu o Grêmio disposto a tudo para dificultar a vida do gigante da capital. O jovem técnico Valdir Espinosa tinha em suas fileiras nomes como Leopoldo Benatti, o popular Raquete, Néia, Tovar e Celso Freitas. O Grêmio de Orlando Fantoni, por sua vez, tinha o veterano arqueiro Manga, Vitor Hugo, Tarciso “A Flecha Negra” e Baltazar.
A partida não saiu do zero a zero, mas a neve que caiu com intensidade durante o prélio foi um espetáculo à parte para os torcedores presentes ao Estádio da Montanha. Os vinte e dois jogadores deslizavam sobre o gelo, vez por outra se chocando, como personagens de um balé inusitado, fascinante e brutal.
Naquela noite, ao chegar em casa com a temperatura em torno de zero graus, o fogão a lenha aquecendo o ambiente e os corações, alguém poderia até mesmo imaginar a figura de um Papai-Noel fora de época, voando com seu trenó entre os prédios da pequena cidade do interior.