Quando nasceram, Tasha e Tracie Okereke, hoje com 23 anos, receberam nomes que já previam o futuro artístico. Filhas de pai nigeriano e mãe brasileira, cresceram ouvindo Prince nas festas que os pais davam em casa. A extravagância do cantor americano e a profundidade de suas canções acenderam nas duas a paixão por moda e cultura.
Entretanto, na adolescência, não encontravam referências fashion que se encaixassem na realidade dos moradores do Jardim Peri, na Zona Norte de São Paulo, como é o caso delas. Criativas, vasculharam os próprios armários e brechós e selecionaram roupas recebidas de doações para transformá-las com linha e tesoura.
As peças customizadas apareciam em ensaios de moda fotografados no quintal de casa com uma câmera antiga. “Nossos amigos nos incentivaram a ir além”, conta Tracie. Criaram, então, em 2014, o Expensive $hit, blog com tutoriais de beleza e reflexões sobre a vida do jovem de periferia. Sem acesso à internet, iam à casa de quem tinha conexão para publicar. A regra era uma só: usar apenas peças até 20 reais.
O sucesso fez o blog ultrapassar as barreiras da rede mundial. As irmãs passaram a organizar festas no bairro. “Fomos as primeiras brasileiras na Afropunk (plataforma online que surgiu de um documentário sobre a presença negra na cena punk americana). Hoje as pessoas nos descobrem espontaneamente”, explica Tracie.
A dupla foi chamada para discotecar no festival Geração 501, da marca de vestuário Levi’s. O cenário em que atuam também mudou bastante nos últimos cinco anos. “Quando começamos, recebíamos mensagens pedindo para falarmos menos de favela, porque achavam que era algo negativo. Agora, ela está em alta. Influencia muita gente e as marcas.” Mas, segundo Tasha, o jornalismo cultural ainda é engessado quando se fala de periferia. “São as redes sociais que dão espaço a ela.”
O próximo passo é a sonhada grife de roupas da dupla em uma coleção com ares festivos. “A moda foi uma forma de a gente se descobrir, de saber quem somos e do que gostamos. Às vezes vemos a Rihanna com uma roupa e pensamos: ‘Que linda, mas ficaria péssimo em mim’. É porque aquilo é a extensão dela. Precisamos descobrir quem nós somos”, finaliza Tasha.
Fonte: CLAUDIA / Foto: Rox Shimura/CLAUDIA