A modelo Yasmin Brito, 23, nasceu com alopecia androgenética congênita, ou seja, nunca teve cabelo. Por conta da condição, ela enfrentou desafios de aceitação desde a sua infância, mas aprendeu a valorizar sua própria beleza.
A principal característica da alopecia, conhecida popularmente como calvície, é a ausência de cabelos ou até de pelos no corpo. Na infância, Brito não achava que poderia ser modelo por falta de representatividade, de ver pessoas como ela na profissão. Devido à ausência de cabelo, ela passou por consultas médicas desde criança, mas naquela época a condição não tinha a visibilidade que tem nos dias atuais.
A dermatologista Nádia Aires, do Hospital Sírio-Libanês, explica que a alopecia congênita é rara e que as causas, além de ser uma doença autoimune, ainda são pouco conhecidas. “Alguns casos foram associados ao histórico familiar da doença, sugerindo uma predisposição genética”, diz.
A suspeita inicial de que Brito tivesse algum problema hormonal não é aleatório, já que o desequilíbrio de hormônios masculinos pode ser gatilho da condição, explica a dermatologista Bruna de Nardo Aniceto, do Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”. Vale ressaltar que a alopecia não é contagiosa.
Outra dificuldade no diagnóstico é que a alopecia não é algo tão comum em mulheres, ainda mais a areata e principalmente a congênita. Médicos inicialmente acreditavam que a falta de cabelo da modelo era devido a uma deficiência hormonal.
Com o diagnóstico aos cinco anos de idade, Brito conta que a família não tinha condições financeiras para arcar com o tratamento, o que a levou a aceitar sua condição com o passar dos anos.
Seus familiares a incentivaram a não usar perucas, mas Brito usou o acessório por mais da metade de sua vida, até mesmo dentro de casa, e enfrentou o preconceito durante a infância e adolescência na escola. “Rezava para que o meu cabelo crescesse, assim não passaria mais por isso”, lembra.
“Usar a peruca foi uma experiência boa até que eu comecei a perceber que ela me impossibilitava de ser quem eu realmente sou. Coçava muito, incomodava. É um acessório que não define ninguém”, avalia.
Aos 16 anos, ela fez seus primeiros trabalhos como modelo e isso mudou sua perspectiva sobre sua própria beleza. Passou a entender que seu cabelo não definia sua identidade e que ela poderia ser bonita mesmo sem os padrões convencionais de beleza.
A jovem teve distorção de imagem e, apesar de não usar perucas desde os 16 anos o tempo todo, ainda utilizava o acessório eventualmente até os 19 para sair de casa. Hoje, ela abriu mão do uso e se sente mais confiante em sua aparência. Brito é uma influenciadora nas redes sociais, especialmente no TikTok, onde fala sobre alopecia, moda e beleza.
“A alopecia é algo doloroso para a autoestima e eu falo sobre isso porque deve ser ainda mais difícil perder o cabelo aos poucos. Diariamente as pessoas me questionam se eu estou em tratamento de câncer”, relata. Seu desejo é criar uma marca de protetor solar adequada para pessoas com alopecia, devido à sensibilidade da pele.
“As pessoas entendem que uma mulher careca está doente e ainda não compreendem que uma pessoa pode ter nascido assim ou até mesmo raspar por estilo. Quero trazer esse lado e mostrar que apesar da falta de cabelo, a alopecia é apenas uma questão externa”, diz.
O tratamento para alopecia varia de acordo com o tipo e a gravidade da condição. Para alopecia areata, por exemplo, as opções terapêuticas incluem o uso de corticoides tópicos, infiltrações locais, tratamentos sistêmicos e até mesmo imunobiológicos.
Na alopecia areata, o folículo piloso (que é a parte do corpo de onde saem os fios capilares) não está destruído, apenas inflamado, o que impede que esse fio cresça. Se a inflamação for tratada, a condição passa a ser reversível. Neste sentido, é importante consultar um dermatologista que possa avaliar cada caso e o tratamento mais adequado para cada paciente.
Não há um limite de idade estabelecido para o tratamento, mas é crucial uma avaliação médica individualizada para determinar a abordagem mais eficaz em cada caso.
“O transplante capilar não é indicado para alopecia areata devido à natureza inflamatória da condição, que pode comprometer os resultados do procedimento. O uso de minoxidil, por sua vez, não trata a doença, mas pode ser útil como complemento após o controle da inflamação, quando os cabelos começam a crescer novamente”, ressalta Aires.