Após 50 anos sem ir à Lua, os EUA falharam em sua primeira tentativa, e o propulsor do módulo Peregrine explodiu.
A primeira missão dos EUA de volta à Lua com o módulo Peregrine fracassou na primeira tentativa, e agora o país enfrenta alguns contratempos. Seu propulsor frustrou os planos, explodindo ao se consumir na atmosfera terrestre na quinta-feira (18).
A nave concluiu sua jornada de 10 dias na tarde de quinta-feira, ao entrar na densa atmosfera da Terra sobre uma região remota do Oceano Pacífico Sul, a leste da Austrália.
A Astrobotic Technology, com sede em Pittsburgh, responsável pelo desenvolvimento do módulo de pouso Peregrine sob contrato com a NASA, confirmou o desaparecimento da espaçonave, após perder contato com o veículo momentos antes do tempo planejado para a reentrada, indicando que o veículo completou sua reentrada controlada sobre o Pacífico Sul.
Em uma coletiva de imprensa realizada na sexta-feira (19), a NASA esclareceu que, após um lançamento bem-sucedido e a separação do foguete em 8 de janeiro, a espaçonave enfrentou um problema de propulsão que impediu o Peregrine de realizar um pouso suave na Lua.
Dessa forma, após análise e recomendações da NASA e da comunidade espacial, a Astrobotic determinou que a melhor opção para minimizar o risco e garantir o descarte responsável da espaçonave seria manter a trajetória do Peregrine em direção à Terra, onde queimou durante a reentrada,
O fracasso da missão representa um problema tanto para a Astrobotic quanto para a NASA, que buscam criar um conjunto estável de módulos lunares relativamente acessíveis e desenvolvidos comercialmente, capazes de realizar missões robóticas à Lua, enquanto a agência espacial trabalha para um pouso lunar tripulado no final desta década.
Contratempos após o lançamento
O módulo Peregrine decolou em 8 de janeiro, a bordo do foguete Vulcan Centaur. Inicialmente, ele surgiu como parceria entre a Lockheed Martin e a Boeing.
O evento aconteceu sem erros inicialmente, permitindo que o peregrine entrasse na órbita da Terra e seguisse seu curso.
Se a espaçonave alcançasse a Lua,seria a primeira missão dos EUA com sucesso desde Apollo 17 em 1972.
No entanto, após algumas horas, Peregrine começou a enfrentar contratempos. A empresa Astrobotic comunicou que a espaçonave apresentou problemas críticos de propulsão. Com isso, passou a vazar combustível, sem conseguir fazer um pouso suave na lua.
Houve uma mudança de curso, e a empresa direcionou a espaçonave para operar mais como um satélite, testando seus instrumentos científicos e outros sistemas enquanto voava milhares de quilômetros através do vazio.
Por fim, a Astrobotic determinou que se desfaria do veículo, colidindo-o com a atmosfera da Terra em alta velocidade para que a espaçonave queimasse.
O que isso significa?
A perda da sonda Peregrine representa um golpe significativo para a Astrobotic e para a NASA. Este empreendimento foi viabilizado por meio de um acordo entre as duas organizações, com a NASA destinando mais de US$ 108 milhões (mais de R$ 500 milhões) para apoiar os esforços de desenvolvimento da Astrobotic, visando o envio de cinco cargas úteis à Lua.
O montante do contrato sofreu um acréscimo de aproximadamente 36% em relação ao valor original. Isso porque o acordo foi renegociado em meio a desafios na cadeia de abastecimento relacionados à pandemia.
Embora a espaçonave Peregrine tenha enfrentado problemas e a missão tenha falhado, a NASA não considera essa sonda sua única opção para conduzir pesquisas robóticas na Lua.
A agência mantém parcerias com outras três empresas especializadas no desenvolvimento de sondas lunares robóticas, incluindo a Intuitive Machines, sediada em Houston, que está programada para lançar sua primeira missão em meados de fevereiro.
Por meio do programa Commercial Lunar Payload Services, a NASA concebeu esses contratos de pouso lunar como acordos de “preço fixo”.
Ou seja, a agência espacial forneceu uma quantia fixa de dinheiro, em vez de continuar pagando à empresa ao longo de todo o processo de desenvolvimento, independentemente de contratempos surgirem.
Thornton, da Astrobotic, destacou que essa é uma das muitas missões relativamente acessíveis que serão enviadas à superfície da Lua, buscando transformar o paradigma e alcançar um novo padrão de custos.
Além disso, o acordo foi estruturado de forma a permitir que as empresas mantenham a propriedade total de seus veículos, enquanto a NASA se torna apenas um dos diversos clientes que transportam carga nos módulos de pouso.
Sondas comerciais também falharam
Um módulo lunar privado nunca conseguiu pousar com segurança na superfície lunar, apesar de tentativas de outras empresas.
Em 2019, a espaçonave da empresa israelense SpaceIL colidiu com a Lua durante uma tentativa de pouso. Em 2023, a empresa japonesa Ispace perdeu o controle de seu módulo de pouso enquanto se dirigia para a superfície lunar.
SpaceIL, Ispace e Astrobotic têm origens na mesma competição: o Google Lunar X Prize, que ofereceu um grande prêmio de 20 milhões de dólares para a empresa que conseguisse chegar à Lua entre 2007 e 2018.
No entanto, o X Prize encerrou sem um vencedor, pois nenhuma equipe conseguiu atender ao prazo final.
Ainda é incerto se um módulo lunar desenvolvido comercialmente conseguirá alcançar a superfície lunar. Uma questão ainda mais intrigante é se as missões lunares oferecem um modelo de negócio financeiramente sustentável para essas empresas.
Parcerias
Além do financiamento da NASA e de outras agências espaciais governamentais, a receita da Astrobotic para a missão Peregrine foi gerada por parcerias.
Isso inclui empresas funerárias espaciais que enviam restos mortais humanos para a Lua. Também licitou companhias de objetos comemorativos como bugigangas, placas, bitcoins e outros para clientes.
O CEO da Astrobotic, Thornton, admitiu aos repórteres que a missão Peregrine custou mais à sua empresa do que gerou em receitas. No entanto, ele afirmou à CNN que uma falha não significa o fim da Astrobotic.
Embora possa ter algum impacto nos relacionamentos e na capacidade de garantir missões adicionais no futuro, não será o fim do negócio, mas sim um desafio, conforme afirmou Thornton em 2 de janeiro.
A Astrobotic já possui contrato para realizar outra missão robótica de pouso lunar para a NASA ainda este ano. Chamado Griffin, esse módulo de aterrissagem, um modelo maior que o Peregrine, visa colocar um rover próximo ao polo sul da Lua.
Fonte: CNN