Dona Cleusa, Dona Cuna, Dona Nersa e Tia Santa Preta são nomes de mulheres do campo que, assim como muitas outras, vivem às margens do Rio Pelotas, nas cidades de Pinhal da Serra (RS) e Anita Garibaldi (SC). Foi ali, também, que viveu por muito tempo a Dona Tita, avó de Franciele Oliveira, a produtora cultural e educadora caxiense que ficou em primeiro lugar na classificação dos projetos da Lei Paulo Gustavo estadual.
Olhando para as suas ancestrais e buscando no coração lembranças de infância – nem todas felizes -, ela idealizou “Entre rios: Histórias das avós e o patrimônio cultural das margens do Rio Pelotas”, um projeto sobre homenagem, reconhecimento, memória e preservação.
Conforme Franciele, ‘Entre rios’ tem três principais objetivos: ouvir, preservar a memória e comunicar histórias de vida de mulheres do campo que habitam nas margens do Rio Pelotas; apresentar a história das cidade de Anita Garibaldi (SC) e Pinhal da Serra (RS) por meio das trajetórias de mulheres que são chefes de família e agricultoras; e destacar os saberes e fazeres das matriarcas e as influências culturais indígenas da região dos Campos de Cima da Serra.
“Estas mulheres acumulam patrimônios imateriais e materiais em suas trajetórias, como o saber do crochê, o benzimento, o feitio das comidas, o cultivo do campo, entre outros. A proposta é atuar nas áreas de pesquisa de História Oral, Patrimônio Cultural, Museologia Social e História Pública, fazendo o registro da memória, promovendo o acesso público às produções e o envolvimento com as comunidades locais”, complementa.
Isso tudo será condensado em uma série de produtos, como uma minissérie de 05 episódios contando a história de Pinhal da Serra e de Anita Garibaldi por meio das histórias das mulheres; três oficinas de acessibilidade visando a qualificação da equipe do projeto,
agentes culturais de Caxias do Sul e docentes de Pinhal da Serra; inventário com a participação de 14 comunidades de Pinhal da Serra sobre os patrimônios da região; lançamentos, em Pinhal da Serra, Anita Garibaldi, Vacaria e Caxias do Sul, entre outros.
Dona Tita, obviamente, seria uma das entrevistadas da minissérie. Porém, ela faleceu em novembro de 2023, quando o projeto já havia sido inscrito. Ela era, desde o início, uma das grandes inspirações de Franciele. “A minha avó vivia em Pinhal da Serra, era parda de origem indígena. Teve 12 filhos nascidos vivos e chegou a ser tataravó. Para manter a família, trabalhava na roça, conseguia doações, amamentava até mesmo os sobrinhos, quando necessário, e estabelecia uma rede de apoio entre várias cidades do Campos de Cima da Serra até Caxias do Sul para poder vestir seus filhos”, conta a neta.
Essa é uma história que se repete à beira do Rio Pelotas, mas que passa despercebida pelas narrativas oficiais. Foi por este motivo, além de honrar suas ancestrais e trabalhar pela preservação das mulheres negras, da cultura originária Macro-jê e das mulheres do campo, que Franciele apresentou o projeto. As imagens da minissérie já começaram a ser gravadas, uma das oficinas de acessibilidade já foi realizada e os trabalhos do inventário estão em andamento.
A partir da pesquisa com as mulheres e o inventário, será realizado um levantamento e um parecer técnico junto ao Instituto de Memória Histórica e Cultural da Universidade de Caxias do Sul dos patrimônios de Pinhal da Serra, cidade esta que não possui um Museu ou espaço de memória institucional, mas sim iniciativas particulares de moradores, como a Dona Cleusa Oliveira. O parecer é fundamental para qualificar a salvaguarda dos itens e promover um entendimento da importância dos acervos”, detalha Franciele.
A previsão de lançamento é para 2025. Dona Tita não estará nas telas, mas, entre seus muitos legados, deixa também um projeto que honra a sua história e a de mulheres como ela.
Projeto realizado com recursos da Lei complementar nº 195/20220 -Edital SEDAC/LPG nº11/2023.
Idealização: Movi Migrantes – Franciele Oliveira
Apoio: Prefeitura de Pinhal da Serra e Associação de Mulheres Semente
da Esperança, Clube de Mães Kolping, Pastoral da Criança e da Família de
Anita Garibaldi, Sementes da Esperança – Grupo de Mulheres Agricultoras
Realização: Ministério da Cultura e Secretaria do Estado do Rio Grande
do Sul