Nos anos 1970, o cultivo da Cabernet Sauvignon começou a ganhar ampla presença nos vinhedos da Serra gaúcha, em virtude da chegada de algumas multinacionais à região. Hoje, é impensável conceber a principal região vitícola do país sem essa icônica uva, uma das impulsionadoras do desenvolvimento da vitivinicultura brasileira. Não é difícil entender por que essa casta tem até um dia só dela para ser celebrado, lembrado dia 29 de agosto: é a uva vinífera mais cultivada ao redor do globo, com mais de 340 mil hectares de plantio.
Isso se deve à grande capacidade que a Cabernet Sauvignon tem de se adaptar a distintos terroirs. A variedade é originária da emblemática região francesa de Bourdeaux e, segundo um estudo da Universidade da Califórnia, a cepa adveio de um cruzamento entre Cabernet Franc e Sauvignon Blanc.
Além de produzir bem, apresenta qualidade regular, sendo uma importante uva para as vinícolas trabalharem no seu portfólio, pois tem grande apelo comercial e também de marketing. Sua versatilidade em se adaptar a diferentes regiões produtoras ao redor do mundo, desde que não muito frias, também aparece nas suas características. Pode tanto proporcionar vinhos de corpo como tintos leves e, embora sejam raros, até brancos.
Na Cooperativa Vinícola Garibaldi, esse ecletismo fica evidente, com a mesma uva proporcionando distintas experiências, como atestam os produtos da linha Garibaldi Reserva e da Granja União. Enquanto o primeiro é um vinho mais encorpado, com mais evolução e passagem por barrica de carvalho, o segundo é um vinho mais jovem, fresco e com teor alcoólico mais baixo. A uva também é utilizada para um vinho Assemblage, da linha Acquasantiera, que recebe na sua elaboração, ainda, Tannat e Merlot.
O Garibaldi Reserva é vinificado de forma tradicional, com a extração da cor realizada por meio da maceração com as cascas durante a fermentação alcoólica. “Para este vinho, utilizamos as uvas dos vinhedos que permitem maior maturação, a fim de termos estrutura para suportar o estágio em barricas. É um vinho de coloração vermelho rubi, com aromas que lembram o tostado da madeira, com notas de especiarias, chocolate e fruta madura. Em boca é macio, elegante e longo”, avalia o enólogo da Cooperativa Vinícola Garibaldi, Ricardo Morari.
Para a elaboração do Cabernet Granja União, a técnica é outra. “Elaboramos este vinho utilizando a Termovinificação, em que extraímos a coloração da casca por meio do aquecimento das uvas e realizamos a fermentação sem contato com a casca”, explica Morari. “Dessa forma, conseguimos elaborar um vinho de coloração mais intensa, violácea, com aromas frutados e frescor em boca. Em geral, esse vinho é sempre engarrafado no mesmo ano em que as uvas são colhidas”, prossegue o enólogo.
Na última safra, a vinícola colheu cerca de 124 mil quilos dessa uva, cuja produção está espalhada por oito hectares. Assim como outras variedades, a Cabernet Sauvignon também tem suas particularidades. Uma delas é sua colheita tardia. Essa uva precisa de um período de calor – mas não muito elevado – para que atinja seu ápice. “São as últimas tintas finas que colhemos, por ser uma variedade de ciclo mais longo. Buscamos todos os anos atingir a maior maturação possível destas uvas, a fim de minimizarmos o caráter vegetal (Pirazina) naturalmente presente no Cabernet Sauvignon. Vinificamos com controle de temperatura e também com uma maceração controlada, para termos vinhos macios e que preservam a tipicidade varietal”, comenta Morari.
São cuidados assim que transformam a rainha das uvas tintas num vinho ícone da vitivinicultura mundial. E mesmo que não precise de uma data especial para abrir um Cabernet, nada mais justo do que dar preferência a ele no seu dia.
Fonte: Exata Com. / Foto: Augusto Tomasi / Divulgação